Em mais que uma final, 'més que un club'

à(s) 01:41

quinta-feira, 28 de maio de 2009


Quando se diz que este seria, até agora, o jogo mais ansiado do século, não é por acaso. Percebeu-se um pouco isso no jogo de Stamford Bridge entre Chelsea e Barcelona, percebeu-se sobretudo isso na ansiedade, nas expectativas, nos debates que antecederam a partida. Algo natural, até porque não me lembro de um confronto com um cariz tão decisivo, e que reunisse frente a frente duas equipas tão capazes individual e colectivamente. Duas equipas que obtivessem tão bons resultados jogando um futebol tão positivo.

O Manchester consolidou esta época, aquilo que iniciou na transacta. Uma imagem de solidez, de espírito competitivo fortíssimo, uma capacidade de manietar muito bem todos os momentos do jogo, de se moldar tacticamente e de forma eficaz às exigências dos 90 minutos (hoje não foi um bom exemplo), e de ao mesmo tempo praticar um bom futebol, atractivo, técnico, eficaz!
Variando entre o 4x3x3 mais europeu, com Ronaldo no centro e Rooney e Park ou Giggs na ala, à frente de um trio de meio-campo, ou entre um 4x4x2 com Ronaldo e Giggs/Park abertos na faixa e Tevez ou Berbatov a acompanhar Rooney na frente.
Mais uma grande época em Manchester, com jogadores menos capazes individualmente como O'Shea, Fletcher ou Park a alinharem em muitos jogos, e a provarem o excelente trabalho que se faz em Old Trafford. Mesmo depois da subjugação da final, é preciso dar o valor que a equipa tem e que faz dela a melhor das duas ultimas temporadas, com duas finais da Liga dos Campeões, um Campeonato do Mundo de clubes e duas Premier League's conquistadas.

O Barça desta época, é a prova de que um projecto idealista pode resultar, pode fazer os adeptos desta modalidade ter o grande prazer de ver o futebol de rua a dar cartas ao mais alto nível. Um projecto que só resultaria com um treinador como Guardiola, que provavelmente passou os últimos anos afastado dos vícios do futebol actual, em laboratório a congeminar os ensinamentos que recebeu no Dream Team de Cruyff. Mesmo a sua própria forma de jogar, no início da fase de construção, num futebol de régua e esquadro, técnico, preciso, descontraído, mas sempre produtivo.
Um projecto destes só poderia ter sucesso com jogadores como Xavi, Iniesta e Messi. Baixo centro de rotação, físico não muito desenvolvido, a antítese do que dizem ser o protótipo de jogador moderno. Mas e o talento onde fica? Estes jogadores explicam que o talento ainda ocupa o papel principal no melhor futebol. E se o notável crescimento de Piqué, o vaivém ofensivo de Daniel Alves que põe a equipa a jogar muitas vezes em 3x4x3 ou 3x3x4, o pulmão de Puyol, o tampão que Touré e Keita fazem às investidas adversárias, e que hoje Busquets com mais 'soupless' também fez muito bem, o instinto de Etoo e a classe de Henry dão muito ao Barcelona, são os 'três baixinhos' o principal suporte desta forma de jogar. Também por isso, na 2ª mão da meia-final, contra o Chelsea, o Barcelona se ressentiu muito do facto de Iniesta ter sido afastado da fase de construção.
O passe curto, o futebol apoiado, a progressão da equipa sempre com bola nas imediações, as muitas linhas de passe em cada momento, as tabelinhas, as desmarcações, as triangulações - o futebol ideal, o futebol do Barça, o resultado do fantástico trabalho preconizado por Guardiola, que levou os 'culés' à conquista do inédito triplete.

O jogo de Roma, começou com vantagem para um dos 'Gladiadores' - Cristiano Ronaldo. O United entrou fortíssimo, nos primeiros 5 minutos vimos 4 remates muito perigosos do português, e o favoritismo inclinava-se para o MU. Até que ao minuto 10, Iniesta pegou na bola e resolveu, assistindo Etoo para o primeiro golo do jogo. Esse foi o momento chave da final. A partir daí os ingleses tremeram, demasiados passes errados, o sub-consciente que temia o poderio demonstrado pelo Barça ao longo da época, veio ao de cima.
O futebol fantástico dos catalães tomou conta da partida, e no banco do Manchester, Ferguson nunca soube reverter a situação. Piorou-a até, quando se esqueceu de uma das noções básicas do futebol - a de que muitos avançados não significam golos. Especialmente quando se defrontam equipas como o Barça, com o poderio do seu meio-campo. Abdicar de Anderson ao intervalo, sendo o brasileiro o jogador com mais capacidade de pressionar e ter a bola, foi um autêntico tiro no pé, assim como colocar Berbatov antes de Scholes. Tudo isto atenua a exibição do Manchester. Mas a explicação para a vitória tranquila e justíssima do Barça (que penso não espelhar a real diferença entre as duas equipas), está no próprio futebol dos catalães.

A UEFA elegeu Messi como melhor em campo, mas Iniesta foi gigante. Dele um dia Guardiola disse qualquer coisa como 'Não usa gel no cabelo, não aparece nas revistas, não se lhe vêem muitas namoradas, mas em campo é o melhor'. Nunca esta frase foi tão verdade como hoje em Roma. Como nunca um estilo de futebol será tão testado como o do Barcelona na próxima época. Se o Barça continuar a brilhar, como acredito que continue, então podemos assistir a um novo (velho) paradigma no futebolês. O de que, fica mais perto da vitória, a equipa que joga melhor. Assim seja!

3 comentários:

Miguel Nunes disse...

de outra galaxia. è para ganharem tudo nos proximos 4 ou 5 anos!

Dejan Savićević disse...

«Somos o centro do campo. Somos a nossa precisão. Somos o nosso esforço. Somos os avançados que defendem, somos os defesas que atacam. Somos a nossa velocidade. Somos o respeito pelos nossos rivais, somos o reconhecimento dos nossos rivais. Somos cada golo que fazemos, somos aqueles que procuram sempre a baliza contrária. Somos um.» by Guardiola

José Lemos disse...

PB,
infelizmente no futebol os 'melhores' ciclos nunca duram esse tempo. Já me dou por satisfeito se o Barça mantiver o nível na próxima época, até porque será suficiente para que haja mais equipas a seguir o seu modelo.

Ricardo,
esse texto é delicioso, poesia ao serviço do futebol. Mais do que o vídeo compilado pela TvCatalunha, são essas as letras que bem interiorizadas, motivam qualquer jogador.

abraços