A próxima época pode ser deles

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quinta-feira, 4 de junho de 2009


O campeonato português terminou e chega a hora do balanço. Por entre objectivos cumpridos, insucessos e segundas metas alcançadas, houve jogadores que deixaram a sua marca, o seu cunho qualitativo na prova. Porque mesmo que nem todas as equipas não tenham atingido aquilo a que se propuseram, existem jogadores nos seus plantéis capazes de mais. Este artigo é sobre isso mesmo, os jogadores jovens capazes de explodir num grande, ou os menos jovens, mas ainda capazes de lá chegar. Tudo isto compilado num plantel de 25 elementos.

Júlio César (Belenenses, 22 anos) - o jovem guarda-redes brasileiro de 22 anos, ex-Botafogo, foi quase sempre o melhor elemento de um irreconhecível e mal preparado Belenenses. A sua agilidade dentro dos postes e a boa saída a cruzamentos, factores aliados a uma previsível boa preparação mental (jogou numa grande equipa brasileira e manteve sempre o nível exibicional no aflito e sobre constante pressão Belenenses), fazem dele uma aposta muito interessante, agora ou na próxima época. Para a 2a Liga é difícil que vá.

Eduardo (Braga, 26 anos) - Defendo-o desde a época passada, Eduardo é o melhor guarda-redes português. Mesmo com dois jogos infelizes esta época (PSG e Benfica), a opinião não mudou e a chamada à Selecção principal é um justo prémio. Contudo, ainda é excessivo compará-lo por exemplo a Vítor Baía, mas as suas qualidades e segurança- principalmente dentro dos postes, tornam-no capaz de jogar ao mais alto nível.

Ventura (Porto, 21 anos) - O jovem portista praticamente não jogou nesta temporada. Teve aparições discretas na Taça da Liga e no jogo da Trofa, mas o conhecimento que tenho dele fazem-me inclui-lo na lista, em detrimento de jogadores de qualidade como Beto ou Bracalli. Precisamente pela grande margem de progressão.

Miguel Lopes (Rio Ave, 22 anos) - A transferência para o Porto está consumada, justificadamente. Tem uma grande propensão ofensiva o que, conseguindo agarrar o lugar, pode fazer com que desempenhe no Porto tarefas semelhantes às de Bosingwa. Para isso conta com a sua rapidez de recuperação e a sua boa capacidade de cruzar. Tem como ainda como aliados a altura e o bom remate.

João Pereira (Braga, 25 anos) - O João Pereira que apareceu no Benfica está diferente. Mais jogador, mais forte defensivamente, mantendo as qualidades ofensivas que de certo modo o destacaram no clube da Luz e que o faziam actuar algumas vezes como médio. Não duvido tratar-se de uma boa aposta para um clube superior, apesar de precisar moldar alguma agressividade que apresenta em determinados lances. A estatura também pode ser um handicap, mas a qualidade está lá.

Tiago Pinto (Trofense, 21 anos) - O filho de João Vieira Pinto é uma das boas revelações desta temporada. Foi sempre um dos destaques do despromovido Trofense, e agora, apesar de ainda pertencer aos quadros do Sporting, o seu futuro é uma incógnita. Por ser jovem, por actuar numa posição carenciada em Portugal, e por indiscutivelmente poder ter um futuro muito interessante à sua frente, o próximo passo é muito importante. Para se fixar como lateral terá que melhorar aspectos do seu jogo defensivo, mas ofensivamente é já muito forte.

Evaldo (Braga, 27 anos) - Nesta posição o jogador do Braga ganhou a corrida a André Marques do Setúbal e a Sílvio do Rio Ave. Essencialmente por, apesar de a margem de progressão não ser tanta, representar no imediato uma opção mais sólida. A sua temporada é disso prova. Fez praticamente todos os jogos, debaixo de uma regularidade impressionante. Não será 'a opção', mas é sem dúvida um bom jogador.

Nuno André Coelho (Estrela da Amadora, 23 anos) - O jovem defesa central regressa na próxima época ao Porto. Não me espantaria se agarrasse o lugar de Bruno Alves, embora os dragões devam recorrer ao mercado porque mesmo Rolando é de certa forma algo inexperiente. Contudo, passo a passo, não tenho dúvidas que este jovem se vai impor na equipa. Alto, forte no um para um e bom marcador de livres, Nuno Coelho é já um bom jogador.

Sereno (Vitória de Guimarães, 24 anos) - 2008/09 foi uma época madrasta para Sereno. A grave lesão contraída nos dois joelhos só lhe permitiu reaparecer no final da temporada, e também por isso é natural que haja algumas reticências no que toca ao seu futebol. Mas quem pode ver os dois últimos jogos do Vitória, constata que a qualidade está lá intacta, a forma de jogar mais em 'soupless' que fazem muitas vezes lembrar Ricardo Carvalho. Posicionamento, leitura de jogo, velocidade, capacidade na saída de bola. Muito bom jogador.

Maicon (Nacional da Madeira, 20 anos) - O brasileiro venceu a corrida a Diego Ângelo e ao seu companheiro Felipe Lopes. Em relação ao primeiro porque tem maior margem de progressão, em relação ao segundo porque é já mais completo. Tem algumas debilidades naturais de quem vem do Brasil, mas notou-se bastante evolução ao longo da época. Fisicamente é fortíssimo, tecnicamente ainda precisa melhorar, mas o Porto certamente será uma boa escola para o fazer.

Rodriguez (Braga, 25 anos) - O peruano, à imagem de Sereno, não teve uma época famosa, muito graças às lesões. Mas também à imagem do vimaranense, faz parte desta lista pela inquestionável qualidade e capacidade para mais altos voos. Tecnicamente também ele com qualidade, muito forte no desarme, boas características físicas e um preço de mercado que certamente baixou em virtude da menor utilização, são mais valias a seu favor.

Roberto Sousa (Leixões, 24 anos) - O brasileiro emprestado pelo Celta de Vigo é craque. Contudo, há um par de anos ninguém diria que seria emprestado por um clube da 2a divisão espanhola a um clube médio português. Essencialmente porque lhe apontavam um grande futuro. No lado direito do triângulo do meio-campo de José Mota percebeu-se porquê, embora lhe falte alguma regularidade. Que precisa consolidar se quiser alcançar uma equipa mais forte, mas a qualidade de passe, a capacidade de jogar de cabeça levantada e a bom remate são armas importantes para a afirmação.

Adrien Silva (Sporting, 20 anos) - Jogador muito jovem, provavelmente o próximo a explodir saído da Academia de Alcochete. Ainda em período recente fortemente conotado com o Chelsea, Adrien jogou mais esta temporada. Apesar de tudo, pela concorrência e não só, a sua entrada no 11 inicial tem sido gradual. Mas é já um jogador muito interessante, o médio defensivo moderno que não se limita a destruir e a tapar caminhos para a sua baliza, mas é muito capaz no processo inverso, na construção, na cultura de posse, no passe.

Hugo Leal (Trofense, 29 anos) - Luiz Alberto, brasileiro do Nacional, podia fazer parte deste 'plantel'. Mas Hugo Leal é, reconheço, um jogador que me enche as medidas. Apesar de certamente não lamentar tanto quanto ele os caminhos errados que tomou quando mais jovem, e que o impediram de chegar a patamares altíssimos. Ainda assim, aos 29 anos vai passeando classe pelo nosso campeonato, e acredito ainda ser uma boa solução para qualquer boa equipa. A leitura de jogo, a muita inteligência, a qualidade técnico-táctica estão todas lá.

Ruben Micael (Nacional, 22 anos) - Vindo do União da Madeira, através da prospecção nacionalista na Região Autónoma, Ruben Micael era encarado no início da época como um jogador de plantel. Depois de alguns jogos de fora, o passar dos meses veio contrariar essa tese e demonstraram aos 22 anos e primeira experiência na Liga principal, um jogador muito maduro, que joga sempre de cabeça levantada, competente tacticamente e desequilibrador (essencialmente a nível da qualidade de passe) ofensivamente. Um bom reforço para qualquer equipa.

Fábio Coentrão (Rio Ave, 21 anos) - O jovem de Vila do Conde, é a par de Yazalde e Carlos Brito a principal razão da manutenção do Rio Ave. É certo que jogou apenas 6 meses em Portugal, mas a sua preponderância no jogo ofensivo da equipa (marcou mesmo alguns golos), a sua capacidade técnica, a sua juventude, dão-lhe justificadamente um lugar nestas escolhas. Desde que solidificando aspectos mentais, a próxima época (previsivelmente no Benfica) pode ser de afirmação.

Cristiano (Paços de Ferreira, 25 anos) - 10 nas costas, bola no pé esquerdo, muita capacidade técnica, algum individualismo e inconsequência, mas um dos grandes responsáveis pelos objectivos alcançados pelo Paços. Também por esse facto e pela despromoção do Trofense não é Helder Barbosa a figurar na lista. Mas Cristiano, 25 anos, terá ainda de ser mais objectivo se quiser vingar a um nível superior. No resto, qualidade é com ele.

Varela (Estrela da Amadora, 24 anos) - Silvestre Varela está longe de ser um desconhecido para os amantes do futebol português. Saído do Sporting, conta já com passagens pelo Setúbal e Huelva, antes da chegada ao Estrela da Amadora, onde pelo centro ou pela direita, fazendo uso da sua velocidade e técnica, foi sempre um dos principais desequilibradores. A transferência para o Porto é já um dado adquirido, apesar de certamente ir ter algumas dificuldades em alcançar a titularidade. Contudo será concerteza utili para certo tipo de jogos, contando para isso com uma maior objectividade e sentido de baliza, que me fizeram preferi-lo a Djalma.

Urretavizcaya (Benfica, 19 anos) - Veio do Uruguai rotulado de grande promessa, depois de brilhar pelo River Plate de Montevideo. A pré-época deixou boas indicações, mas a forte na concorrência na ala esquerda e a preferência de Quique por maior contenção na direita, aliados aos quase dois meses que passou na selecção, fizeram-no perder o comboio. Que recuperou quando o Benfica já tinha os dois principais objectivos bem longe. Da parte final da época dos encarnados Urreta é a melhor memória, jogando na ala direita, mostrando pormenores interessantes, capacidade técnica acima da média, velocidade e curiosamente um processo decisional mais ou menos bem conseguido. A próxima época pode confirmar o valor que se prevê, e que já atraiu olheiros de Arsenal e Fiorentina.

Nuno Assis (Vitória de Guimarães, 31 anos) - É certo que Assis não é jovem. É certo que já passou em clubes como Benfica e Sporting. E é certo que as suas melhores performances foram em Guimarães. Mas principalmente na Luz, conseguiu grandes jogos quando foi parte importante na conquista do último campeonato. Provavelmente foi incompreendido ou mal aproveitado, a polémica com doping não ajudou. Mas é justo reconhecer que Nuno Assis foi certamente um dos três melhores jogadores da segunda metade do campeonato, catapultando o Vitória para uma melhoria exibicional, através de golos, assistências e da capacidade em fazer jogar a equipa. Por isso não podia ficar de fora desta lista. Certamente que não voltará a um grande português, mas não estou assim tão certo que se o fizesse não tivesse bastante utilidade.

Rui Miguel (Paços de Ferreira, 25 anos) - Este ainda jovem jogador do Paços foi a par de Cristiano, uma das figuras da equipa. Saído da Naval há duas épocas para a Polónia (onde foi campeão ao serviço do Lubin), provavelmente por motivos financeiros, é agora um alvo bastante apetecível para os clubes portugueses, pela capacidade que apresentou na prova. Fortíssimo a nível técnico, com boa capacidade de remate, Rui Miguel jogava no Paços sobre o centro-direita, atrás do avançado. Um médio ofensivo interessante para explodir na próxima época.

Luís Aguiar (Braga, 23 anos) - O urugaio do Braga, que teve um post no Futebol Total há uns meses atrás, foi já transferido para o Dínamo de Moscovo. 3M€ por metade do passe não é propriamente uma pechincha, mas apesar de tudo foi concerteza um investimento com retorno. Aguiar representa mais um caso de um jogador super-desaproveitado pelos grandes portugueses, e que vai jogar na Rússia longe dos melhores palcos. Ainda assim, considero-o de todos os jogadores que não actuam num grande, e mesmo sabendo da sua curta passagem pelo FCP, aquele que actualmente estaria mais preparado para 'pegar de estaca'. Joga com os dois pés, executa muito bem a bola parada, forte na finalização e na construção, participa com qualidade no processo defensivo, nunca desiste de um lance, pode ocupar várias posições no meio-campo. Era preciso mais para jogar no Porto, Benfica ou Sporting? Pelos vistos era...

Nené (Nacional, 25 anos) - Referência incontornável deste campeonato, discute penso com Aguiar o título de mais preparado para jogar num grande. Melhor marcador da prova ao serviço de uma equipa 'não grande' está longe de ser um mau cartão de visita. Se juntarmos a essa marca o facto de os golos serem obtidos de todas as formas - bola parada, cabeça, pé direito e pé esquerdo, e a capacidade e disponibilidade para ser o primeiro defesa da equipa, fazem do brasileiro ex-Cruzeiro um alvo imperdível na relação qualidade-preço para qualquer clube com uma boa gestão desportiva.

Baba (Marítimo, 21 anos) - Um daqueles diamantes africanos a precisarem de ser lapidados, mas já com muito futebol nos pês. Rápido, forte, explosivo, espontâneo no remate, Baba conseguiu esta época uma boa marca a nível de golos, e foi um dos destaques de um Maritimo mediano. Fala-se já em muitos clubes interessados, mas a permanência na Madeira por mais uma época, por forma a ser bem trabalhado por Carvalhal, longe dos holofotes e da pressão dos maiores palcos, será provavelmente uma boa medida. Uma boa promessa nos verde-rubros, ganhando o lugar a Carlos Saleiro, tendo como vantagem o facto de ter iniciado a época na Primeira Liga.

Douglas (Vitória de Guimarães, 23 anos) - William do Paços poderia perfeitamente figurar nesta lista, até porque marcou mais golos que Douglas e porque à semelhança do compatriota teve uma época prometedora destruída por uma lesão. Contudo, o avançado vitoriano cativa-me mais. Tem características físicas muito importantes para um avançado, sendo capaz de segurar a bola com qualidade, ao mesmo tempo que a capacidade de remate é acima da média. O tal instinto matador que diferencia os avançados e que Douglas tem. Dois anos depois, o Vitória tem um sucessor à altura para Saganowski.

Este é obviamente um exercício subjectivo, passível de discussão, mas certamente que um plantel destes daria muito bem conta de si numa competição como a Liga Sagres. Ao mesmo tempo que não duvido que muitos destes jogadores estarão em breve a actuar em patamares superiores ao actual. Todos eles para continuar a seguir com atenção.

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