O Sporting x Benfica é sem sombra de dúvidas, o maior derby do futebol português. A sua história percorre décadas, as jogadas, os golos, o que há para contar dos jogos passados, ocupam sempre largos minutos/parágrafos nos espaços noticiosos, tentando antever-se o que se poderá passar em campo. Sempre com duas correntes, uma defendendo (mais racionalmente) que quem chega melhor ao derby tem mais hipótese de o ganhar, outra socorrendo-se do facto de em muitos confrontos vencer a equipa que parte para o jogo em pior condição. Se considerarmos 'pior condição' apenas a tabela classificativa, então constatamos que esta última saiu ontem por cima.
Contudo, faço agora uso de uma frase famosa, 'prognósticos, só no fim do jogo'. E aqui refiro-me àquilo que o jogo nos deixou, em termos de perspectivas para o campeonato. Que são mais risonhas para o Sporting. Apesar de, volto a ressalvar, não conseguir encontrar em nenhum dos três grandes, regularidade exibicional, evolução marcada na solução dos seus principais problemas, estabilidade psicológica, e mesmo qualidade de jogo, para que considere algum consideravelmente mais forte e consequentemente mais candidato.
Em relação ao jogo propriamente dito, não posso discordar de Paulo Bento quando diz que o resultado peca por escasso. Especialmente pela segunda parte do Sporting. Mas vamos por pontos:
1 - O Sporting adiantou-se no marcador quando ambas as equipas ainda tentavam assentar os seus modelos, sem clara superioridade. O golo é de uma execução fantástica de Liedson, mas percebe-se a reacção de Quique Flores pelos dois erros que o antecederam.
2 - O Benfica reagiu bastante bem ao golo sofrido e fez um resto de primeira parte bem conseguida. Aimar e Yebda destacaram-se nesse período, enquanto o Sporting não conseguiu traduzir em volume de jogo o ímpeto que o golo marcado supostamente traria.
3 - A segunda parte começa com um golo do Sporting (em mais uma desconcentração colectiva grave do Benfica), que dá clube de Alvalade mais estabilidade para aproveitar as nuances (muito bem) impostas por Paulo Bento ao intervalo.
4 - A saber: trocou Izmailov por Vukcevic, aproximando o russo de Moutinho (valendo-se do facto de naquele lado actuar Amorim), e deu liberdade ao montenegrino para 'cair em cima' de David Luiz quer forçando o erro individual, quer utilizando movimentos interiores. Aí, o meio-campo do Sporting asfixiou completamente a zona central do Benfica (com Moutinho, Izmailov, Vukcevic e por vezes Rochemback a jogarem bastante na zona dos desprotegidos Yebda e Katsouranis. Enquanto Liedson e Derlei saiam inúmeras vezes do centro em direcção às alas).
5 - O Benfica nunca conseguiu reagir ao pressing intenso do Sporting, e com a zona central completamente bloqueada, eram importantes as saídas pelas laterais. Aí, Reyes seria fundamental, mas o espanhol fez uma exibição paupérrima na segunda metade. Intensidade e rasgo zero, pouca rapidez e incapacidade de galgar metros em posse, levando a equipa para a frente. Aqui, a entrada de Di Maria para o lugar de Reyes teria sido mais válida, mantendo a equipa equilibrada e dotando-a de capacidade de progressão. Quique Flores preferiu guardar o espanhol para as bolas paradas (bate sempre muito bem).
6 - As substituições no Benfica nunca conseguiram alterar minimamente o cariz da partida, o clube da Luz nunca conseguiu conservar a posse de bola, e consequência, o Sporting ia crescendo cada vez mais.
7 - Falar de erros individuais no Benfica é demasiado redutor. Muito embora (p.ex) David Luiz tenha feito uma exibição desastrada, Quique Flores terá de reflectir nas razões que levaram o Benfica a não conseguir qualquer remate à baliza no período compreendido entre os 45 e os 80 minutos. E nas razões pelas quais a equipa nunca conseguiu suster o caudal ofensivo do adversário, muito embora naturalmente, os motivos possam estar interligados.
8 - Paulo Bento saiu do clássico, penso, confirmado como o treinador dos três grandes mais capaz de ler o jogo e operá-lo a favor da sua equipa. E com a certeza que, mesmo tendo individualmente menor qualidade exibicional, consegue com o seu modelo, tirar o melhor rendimento da maioria dos seus jogadores. Além da convicção de que conta com um leque de escolhas alargado, sem que a equipa se ressinta de alguma rotatividade.
9 - Por seu turno, Quique Flores saberá que o seu Benfica precisa de crescer para poder chegar ao título. Depois do muito bom jogo no Porto, pensou-se que esse seria o estímulo que faltava à equipa, mas o jogo seguinte com o Paços de Ferreira revelou os problemas do costume, e ontem contra o Sporting, a equipa demonstrou carências que não se lhe conheciam.
10 - Estamos no final de Fevereiro, já na segunda volta, e neste momento, Reyes e Suazo não fizeram o suficiente para que o Benfica avance para as suas contratações no final da época (muito menos pelos números supostamente envolvidos). Por seu turno, continuo a bater-me que Aimar (mesmo que ontem não tenha feito um grande jogo) foi uma boa contratação. Apesar de tudo, David Luiz continua a ser, de longe, a melhor solução para a lateral esquerda da defesa do Benfica. E Cardozo, jogo após jogo, prova que tem de ser mais bem aproveitado.
11 - No Sporting, Liedson demonstra (se fosse preciso) a alguns críticos, as suas mais valias. Confundir qualidade de jogo com esteticidade, tem que se lhe diga. Mas se fosse preciso, o 'levezinho' marcou ontem dois grandes golos, e 10 golos em 12 jogos contra o Benfica, não será por acaso. Izmailov e Vukcevic continuam a somar grandes exibições e Pereirinha a provar que é um jogador útil, especialmente nas conjecturas como a que o levou a entrar. Pelo contrário, continuo convencido que Adrien ou Miguel Veloso desempenham melhor a função de pivot defensivo do que Rochemback e a dupla de centrais do Sporting revela algumas carências, que frente a Klose e Toni, não serão um bom cartão de visita.
2 comentários:
"Para quem sabe ler, o que os desembargadores dizem é que toda a acusação se baseou em preconceitos clubisticos e assentou na credibilidade de uma testemunha que, de todo, a não merece. Ando a escrever isto há dois anos, mas há quem ache que a justiça dos tribunais não presta, a do Comissão Disciplinar da Liga- onde os juízes são escolhidos por influências dos clubes, onde se julga sem contraditório e sem sequer ouvir testemunhas- essa, sim, é que é a verdadeira."
ESCLARECEDOR este MST.
22-02-2009 LABAREDAS
Há penáltis e penáltis
É a velha história dos «ses». Se, por exemplo, um jornalista for isento, consegue ver para lá da barreira clubística que lhe pode tolher as ideias. Se não o for, condena-se à falta de rigor perene. O Labaredas leu com agrado que o cronista de O Jogo presente ontem em Alvalade coloca um ponto de interrogação no derby. É sempre bom questionar! E se?
«Quem sabe como se portaria um Benfica em vantagem?». Ninguém sabe. Curioso é que a mesma dúvida não lhe tomou a mente nos dias subsequentes ao F.C. Porto-Benfica, depois de Lucho ter sido rasteirado ainda na primeira parte e com um nulo no marcador. É certo que não esteve escalado para a crónica em questão, mas entretanto já escreveu sobre o tema. E se a ocorrência tivesse sido de sentido inverso?
O Labaredas também gosta de desenhar cenários. E se o resultado de ontem fosse radicalmente oposto? E se em jogo estivessem outros intervenientes? Podemos estar aqui a disparar «ses» até 2093, ano em que o F.C. Porto cumprirá o segundo centenário e continuará a ser seguramente o melhor, mas o certo é que ninguém leu algo semelhante acerca do encontro do Dragão saído da mesma pena.
Faz sentido. Tem a ver com um estilo de jornalismo muito em voga nos meios lisboetas, mas que não se ensina nas universidades. Basicamente, o Labaredas acha que é tudo «Farinha do mesmo saco». Só assim se concebe que não se considere «muito normal» que sejam marcadas grandes penalidades a favor do F.C. Porto.
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