Manchester City, quando os dólares não compram tudo

à(s) 04:52

sábado, 21 de fevereiro de 2009


Provavelmente o dia para escrever este texto não é o melhor. Até porque o City conseguiu, na véspera, um resultado que se pode considerar interessante. Obviamente que o Copenhaga não é um adversário de peso, mas empatar fora a duas bolas, numa eliminatória de uma competição europeia, não é de todo um mau resultado. Mesmo assim, 'arrisco'.

Digo arrisco, também porque a equipa visita o Liverpool no Domingo e em caso de uma vitória, estas linhas podem parecer nonsense. Ainda assim, penso que tal facto não apaga a época dos mais novos ricos do futebol inglês. Ok, na UEFA têm feito um bom trajecto, deixando por exemplo o Schalke 04 pela fase de grupos, e estão perto dos oitavos de final. Mas não será esse o primeiro objectivo dos seus responsáveis. Que será reafirmar-se no maior campeonato do Mundo e encurtar distâncias para os primeiros, onde se inclui o vizinho e maior rival, Manchester Utd. No entanto, se algum de nós estivesse ligado ao City e quisesse encontrar os reds teria duas hipóteses: ou fazer a viagem até ao outro lado da cidade, ou, dentro da tabela classificativa, levantar a cabeça e olhar bastante para cima, com a distância e a reverência que os 28 pontos que separam as duas equipas, merecem. Não me parece que isto, algures nos EAU, faça as delícias dos donos do clube.

Olhando para esta época, facilmente se constata a irregularidade da equipa. Curiosamente, tal não aconteceu no seu ano zero, a época passada, com Eriksson. O sueco tinha pouco mais de 11 bons jogadores, e fez uma primeira parte de Premier League excelente, decaindo depois um pouco, de forma natural.
Mark Hughes tem tido mais dificuldades. O City é muito forte em casa, mas demasiado débil fora (apenas uma vitória). Pensando no seu trajecto, houve dois jogos que podiam ter dado um forte ímpeto aos seus comandados (em Setembro recepção e vitória por 6x0 sobre um na altura forte Portsmouth de Redknapp; às portas de um Dezembro com a loucura habitual, recepção e vitória sobre o Arsenal, por 3x0). Mas tal não aconteceu, a estabilidade exibicional e de resultados não chegou.
Olhando para a actual equipa base temos pistas para perceber estes factos: Given, Richards, Dunne, Bridge, Zabaleta, Kompany, De Jong, Ireland, Wright Phillips, Robinho, Bellamy. Qual é o ponto circunstancial? 8 caras novas em relação à época passada (apenas Richards, Dunne e Ireland já faziam parte do elenco). Mark Hughes finalmente começa a ter uma ideia definida acerca dos jogadores que pensa serem os ideais para atingir os seus objectivos (nova qualificação para a Taça UEFA), que de facto não parece em risco. Mas para o galês conservar o cargo para a próxima época, talvez precise fazer mais, colocar a equipa a jogar mais, de forma mais consistente.

Para o fazer, talvez deva rever alguns dos princípios de jogo. O City assenta num 4x2x3x1, onde o duplo pivot defensivo tem dificuldade em sair a jogar. Principalmente quando Kompany ou Zabaleta aparecem a jogar ali. A contratação de De Jong, pode ter sido feita nesse sentido, mas o holandês não terá tudo que a equipa precisa. Principalmente a capacidade de transportar a bola, ao melhor estilo dos box to box ingleses. Nesse sentido o recuo de Ireland (agora a jogar mais como pivot ofensivo) chamando Elano para o onze, ou uma aposta mais efectiva em Gelson Fernandes (actualmente lesionado) ou Michael Johnson, parece-me mais produtiva.
A defesa é sólida. Á direita Zabaleta (mais ofensivo), ou Onuha mais de contenção, dão segurança é equipa, e à esquerda a capacidade de Bridge é reconhecida (nunca deixou de ser chamado à Selecção Inglesa, mesmo sendo suplente de Ashley Cole durante alguns anos). No centro dois bons jogadores, duros, impetuosos, fortíssimos na marcação, Dunne e Richards. Na baliza, Hart ou Given são bons guardiões.
Ofensivamente, outro problema. O homem mais avançado. Robinho, estrela da equipa, não é jogador para aquela posição. O brasileiro, idealmente, deve partir da esquerda em diagonais que destroem defesas, deixando as costas para as entradas de Bridge. O dono do lugar tem sido Bellamy desde que chegou. Mas o pequeno galês não é jogador para actuar em cunha entre os centrais, desgastando-os, indo ao choque (não esquecer, falamos da Premier League, que apesar da evolução, mantém algumas características típicas). Antes para jogar com alguém ao lado.
Que penso eu, deveria ser Jô, a girafa. O jovem brasileiro que marcou golos para todos os gostos no Brasil e na Rússia (CSKA). Hughes incompreensivelmente, preferiu ficar no plantel com Caicedo, Vassell ou Benjani e emprestou Jô ao Everton, onde na estreia marcou por duas vezes.
A equipa sente dificuldades em sair do pressing. A transição defensiva, é estranhamente descoordenada. Não há grande volume de jogo exterior, mesmo tendo Bridge ou Wright-Phillips. E nos jogos fora entra numa prisão emocional estranha. Tudo coisas que Mark Hughes deverá corrigir.

Porque o tempo passa e o grupo Abu Dhabi vai ficando cada vez mais impaciente. Contando os dólares, com que vai acenar a diversas caras no próximo Verão. Algumas delas podem mesmo ser treinadores. Mas estes multimilionários deviamm perceber que o dinheiro não compra tudo. Nem estabilidade, nem tempo, nem sequer ajuda a queimar etapas.
Há coisas que são certas no City: saúde financeira, fiéis e fervorosos adeptos, não fugindo à regra inglesa. Uma equipa, ainda não.

2 comentários:

Bruno Sousa disse...

O Mark Hughes é galês, não norte irlandês...

José Lemos disse...

Bruno,
obrigado.

Se não fossem vocês..