A 'altura' nos guarda-redes do futebol moderno

à(s) 03:24

domingo, 15 de fevereiro de 2009


Este Sábado, no final do excelente jogo entre Braga e Leixões, mais do que se discutir questões técnicas ou tácticas, mais do que discutir pistas ou perspectivas futuras para as equipas, discutiram-se alturas.
Tudo porque, penso, que de certo modo, se deu outro sentido às declarações de Jorge Jesus, quando este afirmou que Beto que nunca poderia vir a ser um extraordinário guarda-redes, devido à sua altura. Esta não é, indiscutivelmente, uma opinião singular, embora penso que incompleta. Existem muitos técnicos, olheiros ou analistas que vêem as coisas muito por este prisma. A de que um guarda-redes terá que ter na altura, uma das suas características fundamentais para o desempenho das suas tarefas.

Há inúmeros casos de guarda-redes que combatem esse factor, com um diferente posicionamento ou trabalhando a agilidade. Em situação de jogo, não é de todo incomum vermos guardiões menos altos a defender dois passos à frente da linha de baliza. É uma forma inteligente de actuar. Mas tem inconvenientes, óbvios, como uma maior exposição.
Contudo, também me parece redutor avaliar um guarda-redes exclusivamente pela sua altura. Atributos como os já referidos posicionamento e agilidade, a coragem, a frieza, a impulsão (que em muitos casos torna quase irrelevante a altura), a saída a cruzamentos, os reflexos, a concentração ou até mesmo o instinto, são tão ou mais importantes no desempenho desta função.
Outros ainda há que no futebol moderno ganharam uma dimensão importante. E que exigiram do guarda-redes uma aproximação aos jogadores de campo, no sentido técnico de jogo com os pés. Quer através de reposições imediatas e preciasas de bola, em equipas que utilizem transições rápidas, quer através de jogo com os companheiros (recepção e passe), no sentido de dotar a equipa de mais soluções (quando por exemplo em situações de pressão), quer também na rapidez e leitura de jogo e ocupação dos espaços, quando a equipa pretende jogar com as linhas mais adiantadas (a propósito deste último, faz-me alguma confusão alguma incapacidade de Moreira ou Quim e de Rui Patrício em fazê-lo bem, ao contrário de Helton).

Concluindo, do guarda-redes espera-se actualmente um muito maior conjunto de características. O que faz dissipar de certa forma a importância da altura. O que me impede de concordar a 100% com as afirmações de Jorge Jesus. Contudo, e como é óbvio, em guarda-redes de valia semelhante, a altura será sempre um factor de 'desempate', no sentido do elemento mais alto.
E que me perdoe José Mota (que também o sei, no final do jogo quis unir, proteger e motivar ainda mais o grupo em geral e Beto em particular) mas mesmo considerando Beto um excelente guarda-redes, no cômputo geral, prefiro Eduardo. E considero-os, analisando não características individuais, mas exibições em 2008/2009, os dois melhores guardiões do campeonato.

PS:_ Fazendo uma espécie de 'Prós e Contras' às declarações de Jesus vemos por exemplo, que Vítor Damas e Michel Preud Homme conseguiram ser extraordinários guarda-redes com menos de 1,85m. Manuel Bento então, nem se fala. No entanto, hoje em dia, olhando para aqueles que considero os melhores guardiões do futebol europeu, constatamos que Casillas, Buffon, Cech, Van der Sar, Júlio César ou Boruc têm todos altura superior a 1,85.

8 comentários:

Miguel Nunes disse...

O jogo está a evoluir de uma forma vertiginosa. Tanto, que a altura para um GR será cada vez mais decisiva.

Na formação do Sporting, já só entram GR que estejam num percentil que garanta que nunca terão menos de 1.85cm de altura.

Ou seja, os mais pequenos, mm q mais ágeis são desde logo descartados, e a opção é por trabalhar e dotar de tecnica e tactica, jogadores morfologicamente e fisicamente mais aptos

José Lemos disse...

PB,
não duvido. Tal como digo, em condições semelhantes, deverá ser dada primazia aos mais altos.

Agora, fazer essa selecção, de forma tão 'unilateral', parece-me arriscado.
Até porque se podem excluir os tais talentos inatos, que só aparecem de vez em quando.

Não são raros os casos de jogadores que viram a porta a fechar-se em escalões de formação dos clubes maiores, devido ao 'défice' de características físicas, e depois se afirmaram ao mais alto nível.
Muitos outros que poderiam ser grandes, após esta nega, desistiram.

O futebol pode estar a tornar-se demasiado 'robotizado'. E esse caminho eu não aprecio muito.

Com um pouco de exagero, vão haver cada vez menos Messis e cada vez mais Ballacks (por exemplo). É capaz de ser perigoso.

abraço

Miguel Nunes disse...

Sim, Jose.

MAs, o q referi (termos morfologicos), só sucede em relação aos GR.

Os traços q ajudam a excluir os jogadores de campo, sao a Velocidade (de execução, sendo também importante a de passada).

Daqui por uns bons anos, os Migueis Velosos de hoje, n terão lugar no futebol.

Ou seja, os talentos naturais, notam-se, pela sua velocidade de execução, pelo q jamais serão excluidos.

José Lemos disse...

E a componente física nos jogadores de campo também. Pelo menos não faltam relatos de 'formigas', jogadores de campo que foram excluídos de camadas jovens devido à sua morfologia.

Não tenho grandes conhecimentos a nível de treino em formação, por isso uma dúvida: a velocidade de execução também se treina ou não?

Eu continuo a achar esses pressupostos, esses pontos de partida (em minha opinião demasiado estandardizados), perigosos para a modalidade.

Até porque uma boa equipa é constituída por jogadores, no geral, muito iguais, mas no particular, muito diferentes.

Para mim, não querendo ser demasiado simplista, há os jogadores com potencial, e os jogadores sem ou com pouco potencial.

Obviamente que não existem jovens jogadores perfeitos, ou já completamente preparados para as exigências do futebol actual ao mais alto nível, mas para isso existe o treino.

Lamento (apesar de não duvidar) que, como dizes, os Migueis Velosos de hoje não tenham lugar no futebol daqui a uns anos, porque mesmo que não seja top em velocidade de execução (que reconheço é ja hoje em dia uma característica importante), tem muitos outros atributos importantes.

Pedro Ribeiro disse...

Acho que a análise passa ao lado do que Jesus quis dizer com as suas palavras - o que nem é de admirar porque ele não prima propriamente pela eloquência.

Jesus quis referir-se à importância da envergadura física (noção mais abrangente do que "só" a altura) num dos aspectos que hoje marca as diferenças dos bons para os grandes guarda-redes: o jogo fora de postes... característica aliás que tem feito as grandes discussões à volta dos guarda-redes da selecção nacional, por exemplo. E nesse aspecto, o que Jesus disse é correcto: Beto é um senhor guarda-redes entre os postes mas é medíocre fora deles. Por exemplo, na última partida do Leixões em Braga fez duas enormes (decisivas) defesas mas também duas saídas disparatadas (que não foram relevadas porque infelizmente para mim (e felizmente para si) não tiveram consequências.

A envergadura física é importante para o domínio do jogo aéreo e a resistência ao choque que essas acções por vezes implicam. Jesus tem razão quando afirma que Beto não tem essas qualidades. Penso aliás que as escolhas de Queirós para a baliza da selecção têm muito a ver com esta particularidade do jogo que alguns dissabores nos deu (selecção)recentemente.

Se Jesus foi oun não elegante, é outra estória. Que tem razão no que disse, tem. Pelo menos, é a minha opinião.

Tiraremos a prova dos nove na próxima temporada quando Beto vestir a camisola de um dos grandes...

José Lemos disse...

RPR,
se a análise passa ao lado do que Jesus quis dizer, sinceramente não sei.
Mas, por não ter características de adivinho, tentei fazer uma análise mais global daquilo que se espera de um guarda-redes, e não tanto, do que quis dizer o treinador do Braga.

Embora uma coisa seja certa: JJ falou concretamente em '1,80 ou 1,85', portanto nada me faz pensar que não se quisesse referir exclusivamente à altura.

Depois, as saídas. Concordo quando diz que a envergadura física é importante. Não posso é concordar que as duas saídas incorrectas que Beto, como referiu bem, teve, tenham a ver com esse facto. Antes com um incorrecto 'timing' de saída.

Mas sim, Beto não é tão forte fora dos postes como dentro deles.

Miguel Nunes disse...

os ganhos q se podem obter na velocidade de execução, ao longo duma carreira, são tão poucos, que já não vale a pena apostar em quem é mais fraco, em termos inatos.

Em relação ao Beto, jamais poderia ser formado no Sporting da actualidade. Precisamente pelo critério q é seguido na formação leonina.

Uma história engraçada, que nem tem a ver com futebol, mas com enquadramento no "sobre quem apostar"

um colega meu, teve um aluno que era bastante rápido. Mas mm bastante. Ligou para um amigo seu, q é treinador de Atletismo do Sporting, e informou-o, de q tinha uma pérola para ele. O Treinador do Sporting perguntou "é branco ou preto?". "Branco". "Esquece isso. Não tou para treinar um gajo durante 10 anos e depois aparecer um preto q nc treinou na vida ganhar ao meu".

O futebol caminhará para esta ideia. Penso eu, claro.

José Lemos disse...

Ora aí está, perder-se-ão 'Betos', ganhar-se-âo 'Krajls', por exemplo.
Por isso a minha opinião sobre o risco inerente a essa medida.


Quanto ao treinador, não se pode dizer que não tenha as ideias bem definidas =)