O Novo Benfica ou o código de Quique

à(s) 03:35

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008


Como prometido, começa hoje (pelo líder) uma análise sobre os 7 primeiros classificados do nosso principal campeonato.

2008/2009. É mais uma época dirão alguns. É a época dirão outros. Muitos destes são benfiquistas. O Benfica nos últimos anos ganhou uma fama que não deve apreciar: a do "este ano é que é". E na realidade este é indiscutivelmente um ano importantíssimo para um novo Benfica. Pelo menos na mente de LFV e principalmente, de Rui Costa. Que considera esta a época zero. Por isso não caiu o "carmo e a trindade" depois da prestação desastrosa na Taça UEFA, eliminação consumada logo após uma saída extemporânea da Taça de Portugal, em Matosinhos. Restam os extremos: a principal prioridade - o Campeonato, e a última - a Taça da Liga.

Para conquistá-los, um espanhol, o mesmo que deixou cair os objectivos intermédios. Quique Flores é um jovem treinador (43 anos), que chegou à Luz com algum cartel, conquistado em Espanha. Por duas meritórias passagem uma por Getafe, outra por Valência onde construiu uma equipa ainda hoje considerada uma lição de táctica e objecto de alguns estudos. Estes factores, aliados à sua enorme facilidade de comunicação, boa relação com a imprensa, ambição e ao mesmo tempo realismo, levaram Rui Costa a contratá-lo. Precisamente com a indicação de que este seria o ano zero no clube da Luz, e portanto algumas declarações do espanhol em relação à sua prioridade: conquistar um lugar na Champions. Os benfiquistas no entanto querem mais. E quando olham para o plantel, aumentam essa esperança. Plantel que apesar de ter algumas lacunas, permite-lhes sonhar e esquecer por momentos o factor tempo, que uma equipa leva a assimilar correctamente todos os conceitos do treinador.

Quique soube-se reforçar para colocar a equipa a jogar no seu esquema ideal, o 4x4x2. Mas a equipa apresenta ainda algumas dificuldades. Uma equipa vale pelo conjunto, mas vou tentar esquematizá-la por sectores.
Na baliza Quim começou a época. E bem, em virtude do rendimento de épocas anteriores. No entanto desengane-se quem pretendeu fazer do bracarense um GR extraordinário. Quim é um bom guarda-redes, em boa forma penso que discute com Eduardo o título de melhor português, mas apresenta carências especialmente quando necessita sair dos postes. Quer em bolas aéreas, quer em bolas lançadas para a área. E nesse ponto, quando Quique quer linhas muito próximas e portanto defesa subida, seria importante ter algúem na baliza que saiba sair, substituir-se à defesa, permitindo-lhe subir uns metros. Penso em Helton por exemplo.
Nas laterais do quarteto defensivo aparecem habitualmente Maxi e Jorge Ribeiro. Em relação ao primeiro pouco há a dizer, exceptuando o facto de ter melhorado bastante os níveis da época passada, apresentando um rendimento muito constante, desprovido de erros, embora ainda algo atabalhoado a atacar. Urge uma solução para aumentar a competitividade na posição e dar uma alternativa para uma potencial oscilação de forma do uruguaio. Que no entanto tem cumprido e bastante bem. À esquerda é diferente. Léo saiu da equipa porque não sabia interpretar o modelo. É bom ofensivamente (apesar de não ser forte nos cruzamentos cria bastante caudal ofensivo e fornece quase sempre boas linhas de passe), mas desequilibra muito a equipa em transição defensiva. A sua estampa física também não é a do típico lateral moderno. Jorge Ribeiro ganhou-lhe o lugar, mas é no cômputo geral pior jogador. Mas cruza melhor , é uma boa opção para a bola parada e defensivamente interpreta mais correctamente o que Quique pede. Apesar de tudo, não o posso considerar forte a defender, dando muitas vezes as costas ao adversário e muitas vezes não se aproxima correctamente do central, deixando um perigoso espaço vazio.
No centro, Sidnei e Luisão. Se o primeiro tem sido uma das revelações da prova, forte no desarme, perigoso na bola parada, sai bem a jogar, Luisão é reconhecidamente a extensão do treinador no campo. A voz de comando. Mas não é de todo o jogador indicado para jogar com as linhas subidas. Falta-lhe velocidade, não se sente muito confortável com muitos metros nas costas. Apesar de tudo, ainda que não perfeitamente, tem cumprido e a sua ausência no sector ainda é muito notada como se viu em Atenas.

No entanto é no meio campo que reside o principal problema do Benfica. O 4x4x2 pressupõe os 4 médios alinhados horizontalmente, mas não é isso que Quique pretende. Os habituais Reyes e Ruben Amorim não são extremos puros. São na maioria das vezes médios interiores, condutores de bola em diagonais rumo ao centro e nem tanto na procura da linha de fundo. Ainda que Reyes o faça algumas vezes. Aliás, o espanhol é a principal solução para a saída de bola orientada do Benfica. Saída da zona de pressão em direcção às imediações da área adversária. Ou então, na conquista de faltas, porque a sua habilidade técnica permite-lhe isso. Está realmente a demonstrar ser um grande jogador. Amorim é diferente. Não tem tanta habilidade técnica, mas sabe também sair a jogar. É o modelo de jogador inteligente, que sabe muito bem o seu papel em campo, e as necessidades da equipa. Por isso em situação defensiva deambula inúmeras vezes para o meio, de forma a restaurar algum equilíbrio numérico naquela zona do terreno. Depois, Yebda e Katsouranis. Tem sido muito discutido a opção de Quique por Katsouranis mais posicional e Yebda com maior liberdade, aparecendo mais frequentemente em zonas ofensivas. Percebo a sua ideia. No fundo quer aproveitar a maior amplitude de movimentos do francês, o seu maior pulmão. Defensiva e ofensivamente. O típico vai a todas. Mas a equipa perde identidade, perde capacidade de sair a jogar, de ter a bola, de construir jogo. O pressuposto de Quique seria mais viável num 4x2x3x1 onde à frente de Yebda estivesse alguém que transportasse a bola com qualidade. No 4x4x2 é diferente, e por isso a dupla Binya x Katsouranis funciona melhor. O camaronês (está muito melhor jogador) fica mais fixo, o grego joga mais. No fundo é a essência do bom futebol. Enquanto Yebda tenta transportar a bola pelo campo entregando-a quase no pé do colega, Katsouranis faz a bola correr. O jogo fica mais imprevisível, mais rápido, mais perigoso para a equipa contrária. O Benfica agradece.

Ofensivamente quatro excelentes opções: Nuno Gomes e Aimar, Cardozo e Suazo. Emparelhei-os porque acredito neles dois a dois. Não em Nuno Gomes e Aimar juntos ou Cardozo e Suazo juntos. Antes um dos primeiros com um dos segundos. Quique já experimentou Cardozo e Suazo mas aí, sem alguém com capacidade para buscar bola, a distância para o meio campo fica ainda mais acentuada. Penso até que se poderia fazer uma gestão interessante. Utilizar as características de Cardozo para que este jogo principalmente nos jogos em casa, onde as equipas estejam mais fechadas, mais juntas da baliza, com pouco espaço nas costas para que Suazo possa fazer uso da sua velocidade. Aí, em ataque continuado, em cruzamentos para a área onde Cardozo joga bem de cabeça, ou até mesmo num dos seus fortes pontapés capazes de destruir uma baliza. Fora avança Suazo. Cardozo é um jogador mais lento, mastiga mais o jogo, não se envolve tanto no processo ofensivo. Fora de portas, onde os adversários são mais atrevidos, a velocidade de Suazo, a inteligência de procurar espaços, são uma arma muito poderosa. Aimar e Nuno Gomes? Esses jogam onde for, desde que o físico lhes permita.

Falei de 15, sobram alguns. Miguel Vítor tem demonstrado que mais cedo ou mais tarde será titular da defesa do Benfica. David Luiz está a regressar, mas a sua velocidade pode ser uma arma importante para a defesa alta do Benfica e mesmo na lateral demonstrou ser opção válida. Carlos Martins pode ser um jogador exuberante apenas em determinados períodos da época, mas raramente falha um passe, é inteligente na forma de jogar e tem um remate forte, tudo factores que o colocam muitas vezes no 11. Urreta está ainda muito verde, mas tem um potencial que merece ser aproveitado. De Di Maria sabe-se que é um jogador, muito embora a sua imaturidade, capaz de mexer com um jogo, pela sua velocidade, capacidade técnica e espontaneidade - um suplente de luxo. Quanto ao muito discutido Balboa, não me vou apressar a crucificá-lo. Vislumbrei nele qualidades que me fazem pensar que irá ser mais do que o barrete que muitos apelidam.

Em suma, este Benfica tem algumas debilidades. Mas tem muitas qualidades que me fazem considerá-lo um fortíssimo candidato ao título. Desde que resolva alguns dos seus problemas. A condição física de alguns jogadores. A capacidade de gerir um jogo e um resultado. Controlando o jogo com e sem bola, que é algo que as grandíssimas equipas sabem fazer e que o Benfica não tem conseguido. Que resolva o seu problema central no meio campo. E que provavelmente na hora de defender, saiba, consiga ou queira, criar mais linhas defensivas, de pressão sobre a bola, preenchendo melhor o espaço vazio.
Será esta parte da distância para a interpretação total do código de Quique.

3 comentários:

Miguel Nunes disse...

mt bom texto.

Unknown disse...

boas análises.
Bom trabalho e já agora um bom 2009!!
AIDOS

José Lemos disse...

PB, antonio,


Obrigado e um Feliz 2009