Foi um prazer, Figo.

à(s) 11:32

terça-feira, 19 de maio de 2009


Foi no passado fim de semana, de conquista para o Inter, que um dos melhores e maiores jogadores portugueses de sempre anunciou o final da sua carreira. Luís Filipe Madeira Figo pendura as chuteiras no ano em que completa 37 anos. E o futebol fica mais pobre.

O ainda jogador do Inter, é dos que ficarão para sempre marcados na memória de quem os viu jogar. Especialmente daqueles que, como eu, cresceram idolatrando o seu futebol. E a sua postura fora dos relvados. Em cromos de cadernetas de futebol, em posters gigantes nas paredes do quarto, nos jornais e revistas, na televisão ou no estádio, Figo acompanhou nos últimos 15 anos o imaginário de todos os que gostam de futebol. No Porto ou em Lisboa, em Madrid ou até em Barcelona, em Milão ou em Pequim, não há quem não tenha ficado rendido à sua qualidade.

'Os Pastilhas' formaram o atleta e homem, o Sporting continuou o processo consolidando-o e tornando Figo num grande jogador, de dimensão europeia. Do polémico trio Barcelona-Juventus-Parma em 1995/96 ninguém se esquece, mas foi na Catalunha que Figo se deu a conhecer ao Mundo. Um dos últimos extremos direitos à moda antiga, fazia do pique e da capacidade de driblar os seus principais recursos, antes de chegar à linha e efectuar cruzamentos absolutamente perfeitos que fizeram as delícias de inúmeros avançados. Apesar de se destacar nas assistências, Figo mantinha também uma boa relação com o golo, quer em bola corrida, quer de bola parada - livres e penalties superiormente bem executados.
Nos Galácticos do Real Madrid, após o Verão quente de 2000/2001, Figo foi já um jogador diferente. Menos exuberante, igualmente espectacular e eficaz, o 10 do Madrid tornou-se ali num jogador completíssimo a todos os níveis. Dessa época, e como consequência dessa evolução, o galardão atribuído para melhor jogador do Mundo pela FIFA, foi seu, foi português. Um prémio importantíssimo pouco tempo depois da pior recepção de sempre a um jogador de futebol, em Camp Nou, ao serviço do Real Madrid.
2005, ano final da 'era Galáctica' trouxe-lhe o Inter. Muitos pensaram ser ali, já com 33 anos, o último ano de Figo, cumprido maioritariamente em baixa rotação. Puro engano. Estamos em 2009 e o português olha para a sua carreira em Milão e, embora lhe falte o sucesso europeu alcançado em Barcelona e Madrid, vê um tetracampeonato. Num Inter onde, num trajecto descendente a nível físico, foi encontrando outras posições no campo, menos colado à linha, mais perto da zona central, organizando jogo. Não deixou de ser uma espécie de evolução táctica, que só os muitos anos de futebol permitiram a Figo cumprir com sucesso. Contudo, algo se manteve sempre no seu futebol: a qualidade com que tratava a bola, e a inteligência sempre presente no destino que lhe dava.
Com 127 internacionalizações, 32 golos, momentos inesquecíveis, sucessivos jogos enquanto capitão, Figo foi também figura incontornável da Selecção Nacional Portuguesa. Ao serviço da qual, em 2000, 2004 e 2006 não andou longe da merecida consagração absoluta.

Resumidamente, foi esta a fantástica carreira de Figo dentro das quatro linhas. Tal como fez questão de referir, com uma média de títulos colectivos superior ao número de anos de actividade desportiva. Muito poucos se podem gabar do mesmo. Daqui se percebe a importância deste jogador nas equipas por onde passou. E da inteligência na hora de escolher o seu rumo. Porque também fora de campo Figo foi especial. Uma figura emblemática que ultrapassa e muito o âmbito do futebol, ao qual concerteza ainda terá muito para dar, provavelmente ajudando à reciclagem do nosso dirigismo desportivo.

Num país que tem dificuldades em reconhecer os melhores (Cristiano Ronaldo é o melhor exemplo actual), num país que nunca foi totalmente unânime em relação à figura deste extraordinário jogador, o melhor elogio que se pode fazer é garantir que ele, o eterno 7 de Portugal, discute legitimamente com Eusébio, o epíteto de melhor e maior jogador português de sempre. E que bom sinal quando estas distinções podem ser partilhadas. No mais, o futebol de Figo continuará a viver em VHS, em DVD, no Youtube, ou mesmo num simples cromo de futebol. Eu ainda tenho o meu.

2 comentários:

Miguel Nunes disse...

O jogador perfeito!

José Lemos disse...

Completamente de acordo. Também por isso se explica que aos 37 anos continue a vencer e a ter um papel de destaque.