Todos os que seguem futebol com maior ou menor atenção sabem como tem sido o Benfica das últimas (quase) duas décadas. Sem querer ser pouco rigoroso e procurando não fugir à verdade, o facto é que existe uma pré-época onde jornais e dirigentes vendem ilusões, um início de temporada onde o entusiasmo está no auge e vai decrescendo com o passar dos meses e dos jogos. No final do percurso, por entre uma ou outra taça conquistada, renasce a fé no sentido de que a epoca seguinte será a do grande êxito.
Êxito que em futebol não nasce por obra do acaso. Por isso o campeonato, uma prova de regularidade, onde os mais bem preparados vencem no final. E o absolutamente contra-natura jejum de títulos no Benfica, tem essencialmente nascido de falta de preparação/competência para recolocar o clube no caminho do sucesso. O que facilmente se constata pelo 'corropio' de treinadores nas últimos tempos.
É certo e sabido que desde Eriksson que nenhum técnico consegue completar duas épocas à frente da equipa. Alguns por manifesta incompetência, outros pela sede de vitória imediata que existe num clube grande. Ora, se a estabilidade é um dos caminhos mais curtos para o sucesso, não é difícil perceber parte das razões para o insucesso do clube.
Mas Quique Flores tem de certa forma contrariado todos estes conceitos, incluindo alguns mais universais no mundo do futebol. O Benfica desta época (exceptuando algum desgaste motivado pelas questões de justiça desportiva) parece ter sido bem erigido. A direcção desportiva teve provavelmente a melhor prestação de mercado dos últimos anos, o treinador contratado dava boas indicações. Forte na metodologia, forte na teoria, não pode haver dúvidas de que Quique Flores profissionalizou e dotou a estrutura para o futebol de meios mais capazes e avançados.
Contudo, dentro das quatro linhas, quando as combinações, a solidez, a motivação, os golos, são a teoria que passa à prática, Quique falhou.
Falhou porque 9 meses após a chegada ao Benfica, afirma que a equipa maioritariamente não joga como pretende. Falhou porque o Benfica raramente apresentou um futebol em consonância com o seu estatuto. Falhou tacticamente porque nunca demonstrou capacidade em apresentar um modelo alternativo ao seu 'hispânico' 4x4x2, que cedo se percebeu não resultar. Falhou porque mostra já alguma desmotivação, porque perdeu o seu estado de graça, e porque já nem nas conferências de imprensa tem conseguido boas exibições. Falhou porque o Benfica saiu cedo de cena na UEFA, num grupo acessível, porque saiu cedo da Taça de Portugal, porque perdeu cedo (a 7 jornadas do fim) as hipóteses de lutar pelo título. Provavelmente falhará porque o segundo grande objectivo (a Liga dos Campeões) está a 4 pontos de distância, quando há apenas 6 jornadas em disputa. Falhou porque nunca conseguiu tirar o melhor rendimento dos seus jogadores.
Ou seja, Quique mesmo que em processos de treino, de aprendizagem, de logística, tenha trazido qualidade ao clube, não a soube transportar para o local onde as épocas se decidem e tudo faz sentido. Disse que o espanhol tem contrariado alguns conceitos universais no mundo benfiquista em particular, do futebol em geral. Porque o treinador do Benfica, demonstra conhecimentos suficientes para não poder ser considerado uma má aposta de Rui Costa. Mas ao director desportivo do Benfica, importa perceber se esses conhecimentos se esgotam na teoria, ou se o 'seu' treinador quis, persistente ou inconscientemente, testar até ao fim (com todas as consequências que para o clube daí advieram) o modelo e o sistema que defende. E nesse sentido, pensar na continuidade do técnico. Ou pelo contrário, voltar à história recente do clube, e contratar um novo timoneiro.
Ontem, curiosamente, Quique experimentou as maiores sensações de antipatia desde que está no Benfica. Num dos melhores jogos da equipa. Só que este Benfica, também contraria uma das verdades universais do futebol: não conseguiu vencer, mesmo jogando bem. Precisamente o oposto do que aconteceu a semana passada na Amadora, e do que, regra geral, vem acontecido na maioria dos jogos. Esta derrota não é culpa do espanhol. O Benfica construiu oportunidades e somou volume de jogo ofensivo suficiente para sair da Luz com uma vitória. Mas, para pouca sorte do espanhol, a sua equipa já transportava consigo uma margem de erro igual a zero. Fruto de jogos pouco conseguidos, de resultados indesejados, de opções duvidosas.
Repito, o Benfica fez um dos melhores jogos da época. Não que tenha sido um jogo extraordinário, mas a fasquia exibicional não estava também muito alta. A verdade é que se olha para a equipa e se vê Ruben Amorim no centro, permitindo à equipa respirar melhor, ter mais critério na posse de bola, fazendo-a circular com mais qualidade. Ao mesmo tempo que não perde capacidade de pressionar o adversário, embora nesse aspecto a diferença entre Katsouranis e Carlos Martins seja considerável. Numa época, Ruben Amorim e Katsouranis co-existiram 3/4 partidas no centro do meio-campo da equipa.
Depois, o 'labirinto Aimar'. O argentino fez provavelmente o melhor jogo com a camisola do Benfica. Em que posição? Naquela onde no futebol actual jogam os elementos mais capazes de desequilibrar: colados à linha contrária ao seu pé dominante. Exemplos? Messi, Robben, Ribery ou Ronaldo. Para aproveitar fortes movimentos interiores, confundindo marcações, arrastando defesas. Há contudo uma diferença: os laterais. Daniel Alves, Sérgio Ramos, Lahm ou Evra. Quatro laterais de forte propensão ofensiva, capazes de alargar o jogo da equipa, com capacidade de chegar à linha para cruzar. No Benfica não é assim. David Luiz é único jogador do plantel capaz de desempenhar com qualidade a posição de lateral esquerdo (mérito de Quique), mas é destro, e privilegia também ele movimentos interiores. É certo que ontem realizou uma boa partida, aparecendo bastantes vezes na área contrária. Mas, em condições normais, ao invés de alargar o jogo, afunila-o. Mais o 'labirinto Aimar se adensa' e se constata que o plantel do Benfica não foi bem formado, quando se vê que com Reyes e Di Maria, é na extrema esquerda um dos lugares em que o Benfica melhor está servido individualmente.
Á direita, Balboa é a única solução, quando seria importante um jogador de valia indiscutível para aquele flanco. Frente à Académica foi o Reyes o homem que partia da direita, e que fazia o mesmo que Aimar e David Luiz no lado esquerdo: aproximava-se tendencialmente do centro.
O Benfica desta época, é, olhando aos resultados, outro erro de casting. Há agora uma tarefa muito difícil para Rui Costa, no sentido de perceber as pistas dadas pela equipa, e pelo seu técnico. De perceber se vale a pena, neste caso específico, olhar a ciclos equipa-treinador de dois/três anos. E escolher entre duas manobras potencialmente arriscadas: a continuidade de Quique ou uma nova 'revolução'.
Êxito que em futebol não nasce por obra do acaso. Por isso o campeonato, uma prova de regularidade, onde os mais bem preparados vencem no final. E o absolutamente contra-natura jejum de títulos no Benfica, tem essencialmente nascido de falta de preparação/competência para recolocar o clube no caminho do sucesso. O que facilmente se constata pelo 'corropio' de treinadores nas últimos tempos.
É certo e sabido que desde Eriksson que nenhum técnico consegue completar duas épocas à frente da equipa. Alguns por manifesta incompetência, outros pela sede de vitória imediata que existe num clube grande. Ora, se a estabilidade é um dos caminhos mais curtos para o sucesso, não é difícil perceber parte das razões para o insucesso do clube.
Mas Quique Flores tem de certa forma contrariado todos estes conceitos, incluindo alguns mais universais no mundo do futebol. O Benfica desta época (exceptuando algum desgaste motivado pelas questões de justiça desportiva) parece ter sido bem erigido. A direcção desportiva teve provavelmente a melhor prestação de mercado dos últimos anos, o treinador contratado dava boas indicações. Forte na metodologia, forte na teoria, não pode haver dúvidas de que Quique Flores profissionalizou e dotou a estrutura para o futebol de meios mais capazes e avançados.
Contudo, dentro das quatro linhas, quando as combinações, a solidez, a motivação, os golos, são a teoria que passa à prática, Quique falhou.
Falhou porque 9 meses após a chegada ao Benfica, afirma que a equipa maioritariamente não joga como pretende. Falhou porque o Benfica raramente apresentou um futebol em consonância com o seu estatuto. Falhou tacticamente porque nunca demonstrou capacidade em apresentar um modelo alternativo ao seu 'hispânico' 4x4x2, que cedo se percebeu não resultar. Falhou porque mostra já alguma desmotivação, porque perdeu o seu estado de graça, e porque já nem nas conferências de imprensa tem conseguido boas exibições. Falhou porque o Benfica saiu cedo de cena na UEFA, num grupo acessível, porque saiu cedo da Taça de Portugal, porque perdeu cedo (a 7 jornadas do fim) as hipóteses de lutar pelo título. Provavelmente falhará porque o segundo grande objectivo (a Liga dos Campeões) está a 4 pontos de distância, quando há apenas 6 jornadas em disputa. Falhou porque nunca conseguiu tirar o melhor rendimento dos seus jogadores.
Ou seja, Quique mesmo que em processos de treino, de aprendizagem, de logística, tenha trazido qualidade ao clube, não a soube transportar para o local onde as épocas se decidem e tudo faz sentido. Disse que o espanhol tem contrariado alguns conceitos universais no mundo benfiquista em particular, do futebol em geral. Porque o treinador do Benfica, demonstra conhecimentos suficientes para não poder ser considerado uma má aposta de Rui Costa. Mas ao director desportivo do Benfica, importa perceber se esses conhecimentos se esgotam na teoria, ou se o 'seu' treinador quis, persistente ou inconscientemente, testar até ao fim (com todas as consequências que para o clube daí advieram) o modelo e o sistema que defende. E nesse sentido, pensar na continuidade do técnico. Ou pelo contrário, voltar à história recente do clube, e contratar um novo timoneiro.
Ontem, curiosamente, Quique experimentou as maiores sensações de antipatia desde que está no Benfica. Num dos melhores jogos da equipa. Só que este Benfica, também contraria uma das verdades universais do futebol: não conseguiu vencer, mesmo jogando bem. Precisamente o oposto do que aconteceu a semana passada na Amadora, e do que, regra geral, vem acontecido na maioria dos jogos. Esta derrota não é culpa do espanhol. O Benfica construiu oportunidades e somou volume de jogo ofensivo suficiente para sair da Luz com uma vitória. Mas, para pouca sorte do espanhol, a sua equipa já transportava consigo uma margem de erro igual a zero. Fruto de jogos pouco conseguidos, de resultados indesejados, de opções duvidosas.
Repito, o Benfica fez um dos melhores jogos da época. Não que tenha sido um jogo extraordinário, mas a fasquia exibicional não estava também muito alta. A verdade é que se olha para a equipa e se vê Ruben Amorim no centro, permitindo à equipa respirar melhor, ter mais critério na posse de bola, fazendo-a circular com mais qualidade. Ao mesmo tempo que não perde capacidade de pressionar o adversário, embora nesse aspecto a diferença entre Katsouranis e Carlos Martins seja considerável. Numa época, Ruben Amorim e Katsouranis co-existiram 3/4 partidas no centro do meio-campo da equipa.
Depois, o 'labirinto Aimar'. O argentino fez provavelmente o melhor jogo com a camisola do Benfica. Em que posição? Naquela onde no futebol actual jogam os elementos mais capazes de desequilibrar: colados à linha contrária ao seu pé dominante. Exemplos? Messi, Robben, Ribery ou Ronaldo. Para aproveitar fortes movimentos interiores, confundindo marcações, arrastando defesas. Há contudo uma diferença: os laterais. Daniel Alves, Sérgio Ramos, Lahm ou Evra. Quatro laterais de forte propensão ofensiva, capazes de alargar o jogo da equipa, com capacidade de chegar à linha para cruzar. No Benfica não é assim. David Luiz é único jogador do plantel capaz de desempenhar com qualidade a posição de lateral esquerdo (mérito de Quique), mas é destro, e privilegia também ele movimentos interiores. É certo que ontem realizou uma boa partida, aparecendo bastantes vezes na área contrária. Mas, em condições normais, ao invés de alargar o jogo, afunila-o. Mais o 'labirinto Aimar se adensa' e se constata que o plantel do Benfica não foi bem formado, quando se vê que com Reyes e Di Maria, é na extrema esquerda um dos lugares em que o Benfica melhor está servido individualmente.
Á direita, Balboa é a única solução, quando seria importante um jogador de valia indiscutível para aquele flanco. Frente à Académica foi o Reyes o homem que partia da direita, e que fazia o mesmo que Aimar e David Luiz no lado esquerdo: aproximava-se tendencialmente do centro.
O Benfica desta época, é, olhando aos resultados, outro erro de casting. Há agora uma tarefa muito difícil para Rui Costa, no sentido de perceber as pistas dadas pela equipa, e pelo seu técnico. De perceber se vale a pena, neste caso específico, olhar a ciclos equipa-treinador de dois/três anos. E escolher entre duas manobras potencialmente arriscadas: a continuidade de Quique ou uma nova 'revolução'.
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