A pouca exigência competitiva em Portugal

à(s) 02:52

terça-feira, 3 de março de 2009


Este texto é centrado nas exigências competitivas dos clubes portugueses, tendo como exemplo as últimas semanas de Porto e Sporting. E o que se vê nos principais campeonatos europeus.

Quando, correctamente, se fala no Big Five, em referência aos campeonatos alemão, espanhol, francês, inglês e italiano, é por forma a colocar esses campeonatos no justo patamar a que pertencem. Que é o primeiro, se falarmos de capacidade financeira, mobilização de adeptos, sucesso nas provas europeias. Sem descurar que obviamente, estas três componentes, de forma mais ou menos directa, estão interligadas.
Mas também é justo dizer, que em Portugal se tem feito muito com pouco. Principalmente pelas competências dos nossos treinadores a nível táctico.

Contudo, há algo que falha. A questão do treino, a exigência competitiva. Assisto desde há muitos anos no nosso campeonato, a uma espécie de desculpabilização para resultados menos positivos quando há uma sequência de jogos maior. Algo que me parece de tal forma enraizado na nossa mentalidade, que soa a 'normal'. Eu penso que não é.
Vamos então em direcção a Inglaterra (poderíamos dar como exemplo qualquer um dos cinco campeonatos acima referidos, embora não seja segredo pra quem vai seguindo este blog, que acompanho a Premier League praticamente da mesma forma que acompanho a Liga Portuguesa).
Em terras de 'Sua Majestade' disputa-se a Taça de Inglaterra, a Taça da Liga, e um campeonato com 38 partidas (mais 8 que em Portugal). Há todos as épocas, 9 equipas qualificadas para competições europeias. E um tipo de futebol, mais exigente fisicamente. Além destes factos, em termos de núcleo duro de jogadores (a nível quantitativo), não há muitas diferenças em relação a Portugal. Mas por cá o ritmo de jogo é muito menor, a capacidade física dos atletas idem.

A questão que fica é, porquê esta desresponsabilização competitiva? Quais os princípios metodológicos de treino utilizados pelos nossos treinadores? Será também fruto de questões culturais, e de uma grande percentagem de jogadores sul-americanos (menos habituados a exigências competitivas mais 'europeias') nos planteis?
Devemos a propósito recordar as declarações (e os resultados) de José Mourinho, quando referia ter as suas equipas preparadas para jogar, sem decréscimo de performance, quando a calendarização fosse mais apertada. Contribuindo para isso a alteração de um para dois os microciclos de treino semanais.
Por todas estas razões não podem haver dúvidas da utilidade da Taça da Liga. Cujas mais valias ultrapassam o campo estritamente financeiro, e centram-se também num preenchimento importante de um buraco no calendário competitivo português, dotando as equipas de mais estímulos competitivos.

Por fim, um mero exercício teórico. Jesualdo Ferreira fez uma gestão da equipa contra o Sporting para a Taça da Liga. Perdeu 1x4. No fim de semana seguinte recebeu o Benfica (que tinha jogado nessa mesma semana, com parte dos titulares do Dragão) e empatou 1x1, sem que o Porto nunca tenha revelado condição física superior.
Paulo Bento fez uma gestão de equipa contra o Bayern de Munique. Perdeu 0x5. No fim de semana seguinte deslocou-se ao estádio do Dragão, onde, mesmo arrancando um empate, nunca a sua equipa revelou indíces físicos superiores ao adversário.
Porto e Sporting alinharam pelo mesmo discurso de desculpabilização em relação ao fraco espectáculo produzido no clássico.
No mesmo fim de semana, o Atlético de Madrid venceu o Barcelona por 4x3 e o Inter empatou com a Roma 3x3. Duas partidas de grau de intensidade elevadíssimo entre quatro equipas ainda em prova na Liga dos Campeões. Conclusões? Estão à vista.

0 comentários: