Portugal e Queirós, rescaldo e perspectivas

à(s) 17:35

quarta-feira, 25 de novembro de 2009


Quando Carlos Queirós voltou a ser Seleccionador Nacional de Portugal, e embora tivesse o apoio de grande parte da nossa 'praça', desde comentadores a treinadores, passando por adeptos e presidentes, todos sabiam que a sua tarefa não seria nada fácil. Principalmente por ter de substituir Luis Felipe Scolari, brasileiro que goste-se mais ou menos, tão bons resultados trouxe a Portugal na sua passagem por cá. E contra factos, resultados desportivos, vitórias inesquecíveis, envolvimento do público com a selecção, contra isso não podem existir argumentos.

De Queirós esperava-se, não que conseguisse ter o mesmo cariz mobilizador e motivacional imprimido pelo seu antecessor, mas que pudesse reverter esse mesmo carisma de outra forma, utilizando outras competências. Nomeadamente a nível táctico onde é capaz, e a nível de trabalho de gabinete, onde poderia reorganizar de forma mais clara e produtiva todo o edifício do futebol português. Contudo, com o modelo actual para as concentrações das Selecções, por ser regra geral num curto intervalo de tempo entre jogos domésticos, o tempo que restava ao treinador era pouco para por em prática grande nuances tácticas. Os jogadores normalmente chegavam à concentração um dia depois dos jogos das suas equipas, ainda fatigados e com viagens pelo meio, e restavam a CQ (como aos outros seleccionadores, note-se) pouco mais de 4 dias de treino para colocar em prática, expor e treinar as suas ideias. Assim, por não ser o motivador que era Scolari, também por ir variando as convocatórias (algo que o brasileiro não fazia, fazendo da Selecção uma espécie de clube, mantendo o núcleo duro com uma ou outra alteração, e por isso de certa forma, consolidando os mecanismos de treino e a união de grupo), e por estar inserido num grupo difícil com os nórdicos Suécia e Dinamarca e ainda com os incómodos Húngaros, o trabalho de Queirós foi tremido.

Portugal teve uma qualificação difícil, quando já muito poucos acreditavam ser possível, por todos os factores já referidos e também, julgo por algumas opções incompreensíveis por parte do Seleccionador Nacional. Pessoalmente, e sendo certo que a posição de defesa lateral-esquerdo tem carências importantes, continuo sem perceber a insistência em Duda. Também por termos Miguel Veloso, que joga de facto melhor como médio-defensivo, mas, que mesmo fora da posição natural, terá mais rendimento que Duda. Espera-se para ver aquilo que Jorge Jesus consegue extrair de César Peixoto no Benfica, ou mesmo a afirmação de Tiago Pinto no Braga, mas não traz muito conforto pensar que na África do Sul esta carência se mantenha.
Ao mesmo tempo, as recorrentes chamadas de Edinho e Hugo Almeida (simultaneamente), são difíceis de compreender. São jogadores que não fazem a equipa jogar, que muitas vezes não entendem o seu jogo, e que, principalmente no caso do segundo, são mais finalizadores. Mas o que se pretende de um jogador deste tipo? Van Nistelrooy, Inzaghi, Dzeko, Luca Toni são atletas com este perfil, que passam grande parte do tempo à margem do jogo, mas quando têm a bola no pé, marcam golos. Os dois exemplos por mim referidos, fazem-no pouco. Agora que temos Liedson, mais matador, e quando eu ainda acredito em Nuno Gomes (porque tenho memória e sei aquilo que fez e continua a fazer sempre que é chamado, principalmente nas fases finais), porque acredito na sua capacidade de fazer jogar a equipa, não vejo grande utilidade em Almeida ou Edinho.
Batendo na mesma tecla, a de fazer jogar a equipa, pensemos em Pepe (excelente central) a trinco. Tudo bem, será uma boa medida frente a equipas de valor semelhanteao nosso, imponentes fisicamente e onde potencialmente precisemos de passar 50% do tempo de jogo em processos defensivos. Mas Pepe jogou naquela posição, por exemplo, frente à Albânia, e na Luz frente à Bósnia. A crítica é unânime: Pepe foi o melhor jogador em campo no primeiro jogo do Play-off, recuperou imensas bolas, destruiu imenso jogo adversário, etc etc. É tudo verdade, Pepe fez um excelente jogo, é positivamente agressivo, rouba bem a bola, mas não a sabe conservar. E se a equipa tem um jogador numa zona nuclear, que não sabe conservar a bola, que não a sabe circular, é natural que a perca muitas vezes. E que portanto haja bastante jogo contrário para Pepe destruir. Num jogo perante uma equipa bastante inferior (a segunda mão provou-o), onde precisávamos de marcar golos, a sua titularidade naquela posição foi um erro. Penso em Meireles, Veloso, Moutinho ou Pedro Mendes (na altura lesionado) para jogar ali e vejo Portugal a ter a bola com mais critério, a dominar. E a estar mais perto do golo.
Esta é a cultura das duas equipas mais fortes do Mundo, Barcelona e Espanha, ter a bola. Massivamente. Porque tendo a bola, além de estarmos mais perto de marcar, defendemos melhor, porque a equipa adversária está atrás dela. Valores superiores a 60% de posse de bola e os bons resultados das duas equipas referidas por mim, não são coincidência. Portugal deve perceber essa tendência, lembrar-se da sua matriz, ter a bola, jogá-la de pé para pé (tem jogadores para isso) e assim acredito que possa estar mais perto das vitórias.

Mas nem tudo foram maus sinais no trabalho de Queirós, antes pelo contrário. Ultrapassadas estas questões, temos razões para estar bastante confiantes numa excelente prestação na África do Sul. Primeiro porque o Seleccionador terá três semanas de trabalho com os jogadores antes da prova, e terá assim tempo de colocar as suas boas convicções em prática. É uma boa ideia querer abandonar a estandardização do 4x3x3 ou do 4x2x3x1 e utilizar como sistema alternativo o 4x4x2 em losango ou o 4x1x3x2. Actualmente esta é uma medida necessária, primeiro porque os melhores treinadores e as melhores equipas são aquelas que durante o jogo são capazes, de adaptar com qualidade, a sua disposição táctica a diferentes circunstâncias. E depois porque a equipa adversária nunca saberá com que esquematização do adversário poderá contar.
Igualmente a nível da formação, onde vem explanando boas ideias, para que o futebol em Portugal tenha futuro. Houvesse um reformista e alguém com boas ideias como Queirós a cada 20 anos no nosso futebol, e pelo menos a nível de Selecções poderíamos estar descansados.

Quanto à próxima grande prova em que vamos participar, acredito que também. Até porque Ronaldo fará um Mundial excepcional, acredito. E se Ricardo Carvalho, Bosingwa, Bruno Alves, Pepe, Veloso, Moutinho, Meireles, Tiago, Simão, Nani, Deco, Nuno Gomes e Liedson, entre outros, souberem acompanhá-lo, e vão saber, então somos capazes de lá para Junho ter muitas alegrias.
Ainda assim será preciso não esquecer que Espanha, Brasil e Inglaterra lá estarão como melhores selecções do Mundo da actualidade, que Itália e Alemanha se agigantam sempre nas fases finais, que a Argentina é sempre a Argentina e tem Messi, que a Holanda teve 10 vitórias em 10 jogos de qualificação, e que, pelo facto de o Mundial se realizar em África, as mais fortes selecções africanas (Gana e Costa de Marfim) possam também ter uma palavra a dizer. Todos estes são factores com que temos de contar. Mas ainda assim, Portugal vai dar que falar.

2 comentários:

apenasfutebol disse...

"uma boa ideia querer abandonar a estandardização do 4x3x3 ou do 4x2x3x1 e utilizar como sistema alternativo o 4x4x2 em losango ou o 4x1x3x2. Actualmente esta é uma medida necessária, primeiro porque os melhores treinadores e as melhores equipas são aquelas que durante o jogo são capazes, de adaptar com qualidade, a sua disposição táctica a diferentes circunstâncias."



Nos últimos tempos muita gente anda a bater nesta tecla...não percebo, sinceramente. Paulo Bento foi (injustamente) fustigado com este argumentário...

Sinceramente, depois de no passado ter visto o Ajax a jogar em 4x3x3 e a dominar a Europa do futebol durante uma década, tenho dificuldade em entender esta argumentação.

E para centrar a coisa no prsente, o que dizer do fabuloso e cristalizado 4x3x3 do barcelona!

Não estou a defender um sistema em relação a outro, longe disso, só acho que esta coisa de ter que se jogar em mais que um sistema ser obrigatório para se ter sucesso é um tremendo disparate.

Indo a Queiroz. Uma palavra apenas: catástrofe...


Abraço

José Lemos disse...

Paulo,
respeito a tua opinião.

Mas não concordo com o exemplo do Ajax, por entretanto o futebol ter evoluído bastante a nível táctico, desde as equipas mais fracas às equipas mais fortes.

Quanto ao presente, estou longe de concordar que o Barça tenha um 4x3x3 cristalizado. Vejo muitas vezes o Barça a jogar em 3x4x3 com Dani Alves no meio-campo, ou mesmo em 4x3x1x2, essencialmente na época passada, ou mesmo em momentos do jogo contra o Inter de Milão.

Mantenho a minha convicção, as equipas mais preparadas para variar entre dois sistemas, surpreendendo o adversário, estão mais perto da vitória. Numa palavra: imprevisibilidade.

1abraço