A utopia do debate pela verdade desportiva

à(s) 03:51

sexta-feira, 13 de março de 2009


Hoje, devido a um tema que tem vindo a ser crescentemente abordado, vou desviar-me ligeiramente do que me propus para o 'Futebol Total' e falar sobre algo que ultrapassa a dimensão das quatro linhas, entrando, não só mas também, no âmbito da arbitragem.

Sejamos claros: a verdade desportiva é algo que só beneficia o futebol. Nesse sentido, obviamente que a introdução de novas tecnologias (para além das que já existem) ao serviço deste desporto, no sentido de o dotar de mais clareza e justiça, seria um elemento importante. Mas essa discussão, na actualidade, é absolutamente utópica.
Por esse facto, parece-me ter sido lançada mais no sentido de algum ganho de protagonismo do que de qualquer outra coisa. Suportada por uma petição que é tudo menos rigorosa (pode, por exemplo, ser assinada inúmeras vezes pela mesma pessoa), além de não aparentar ter qualquer sentido prático.

E esta discussão é utópica porquê? Porque, nunca a curto prazo, e tenho as minhas dúvidas se a médio, essas alterações serão quiçá discutidas pelo International Board. Depois, porque não existe actualmente uma tecnologia que seja comprovadamente fiável, quanto mais infalível. E não deve haver dúvidas que para introduzir este tipo de meios no futebol, eles terão que apresentar como grande pressuposto, a infalibilidade.
Ainda, os custos associados a esta medida, e consequente aplicação em TODO o futebol profissional, não se coadunam sequer com o 'encurralamento financeiro' actual por que passa o desporto rei. E por fim, há que pensar que introduzir novas tecnologias que obriguem à paragem do jogo, é assassinar a sua essência.
Num cenário pretensamente ideal, novas tecnologias sim, sempre sem paragem do jogo. Por isto, penso, elas nunca podem chegar à discussão do penalty, ou da falta. Antes e apenas, à definição de bolas para lá da linha de golo e de foras-de-jogo. Mas até que este tipo de lances possa ser avaliado de forma infalível, a tecnologia terá ainda alguma evolução à sua frente.

Poder-se-à dizer que a mediatização do assunto é uma forma de lhe dar importância, e de alterar a mentalidade dos adeptos, sensibilizando-os no sentido de que a verdade desportiva é fundamental, e os meios tecnológicos são essenciais para a adoptar com maior critério. Mas não me parece que haja qualquer tipo de dúvidas sobre isso.
O que também não devia haver dúvidas, é que não há actualmente qualquer forma credível e eficaz de aplicar estas inovações (algo que nunca foi devidamente explicado pelo 'criador' deste movimento), e que não há nenhuma abertura por parte de quem realmente decide nesse sentido.

Claramente, mais do que representar qualquer tipo de produtividade, este parece-me ser uma espécie de 'debate da moda'. É um aspecto importante, sem dúvida, mas não tão urgente assim. O futebol tem sempre resistido à falta de meios tecnológicos, e cada vez mais é um fenómeno em crescimento, conquistando mais adeptos. Neste sentido o International Board tem preservado o ADN deste desporto. E por vezes, ainda bem que são 'dinossauros'. Caso contrário, e pelo muito que se vai ouvindo, o desporto rei provavelmente estaria já morto.

Meios tecnológicos? Obviamente que sim. Discussão à cerca do assunto? Apenas sobre a forma de melhor os implementar. Quando? Quando houver condições (a todos os níveis, incluindo o financeiro) para que tal aconteça, o que certamente não é para breve. Pressuposto? Preservar a identidade do futebol, e não permitir paragens de tempo de jogo para análise, sobre nenhuma condição. Condições estas sim, a bem da verdade do jogo!

7 comentários:

PSousa disse...

Também pode ser muito útil na avaliação das agressões gratuitas não sancionadas pelo árbitro.

Não acho que possa alterar a essência do futebol, pois quantos minutos se perdem a volta do árbitro? quantos minutos se perdem nos penaltys? Quantos minutos em outras situações, como simulações de lesões e outros casos?!! E não é necessário parar as jogadas, pois pode continuar o lance e ser revisto por quem de direito que esteja a monitorizar a imagens, e informar imediatamente o árbitro de algum erro, e este corrige, imediatamente. O replay é quase imediato ao lance, por isso...e só deve ser levado em conta em caso de não existir duvidas alguma.

Não vejo por aí...Acho que as novas tecnologias deviam ser alternativas válidas imediatas.
É preciso coragem, só isso.

Tudo evolui, por isso não vejo porque o futebol possa ser diferente.

Abraço

José Lemos disse...

PSousa,

além de todos os minutos que refere, mais ainda se perderiam.
Como exemplo, parece-me insustentável seguir um lance, o jogo desenrolar-se com normalidade nos instantes seguintes (com probabilidade de situações de perigo noutra área), e o árbitro necessitar de o parar. Isso é desvirtuar completamente o futebol.

A condição ideal seria um sinal (talvez sonoro) ao árbitro no exacto instante em que se dá a jogada. E isso, só será possível em casos de golo ou fora de jogo.

Agressões e consequente sanção disciplinar na paragem de jogo seguinte, ainda admito.
Penaltys é que nunca, até porque a análise desses lances, mesmo com meios tecnológicos ao dispor, é sempre passível de subjectividade, como se vê pelas discussões infindáveis, nas semanas seguintes aos jogos.

Mais do que coragem, é preciso condições para as implementar. E certamente que não é para já. E por vezes o que me parece, é que se discute este assunto como algo possível de implementar a curto prazo. Não é.

abraço

PSousa disse...

Caro José,

Estou certamente a falar dos lances que "só deve ser levado em conta em caso de não existir duvidas alguma", como referi atrás, e realmente também me parece que os penaltys são objecto de subjectividade, até porque quem visiona também é humano, mas outros lances não.

O que me refiro essencialmente aos pontos que também referes e esses existem meios para serem implementados já, e não vejo que desvirtue um jogo uma pequena paragem num lance que ocorreu incorrectamente antes, pois desvirtuar um jogo é a falta de credibilidade dele ou lances que são obtidos de infracção as leis de jogo, que por vezes fazem ganhar milhões, isso é mais grave que tudo o resto. Aliás, quase todos os desportos já recorrem a tecnologia, até porque esta já vem desvirtuar a forma como vemos o futebol, por isso, porque não gastar algum dinheiro e utiliza-la.

Mais dois árbitros por exemplo não vejo que possa ajudar muito, aliás tenho muitas duvidas que não venha criar ainda mais suspeições e artimanhas, sendo que são mais dois por jogo que se pagam [já não é assim tão pouco], quando o quarto árbitro podia ajudar nas situações que concordamos.

São opiniões, por isso o debate de ideias.

Abraço

José Lemos disse...

O critério 'sem qualquer tipo de dúvida' também me parece encarnar alguma subjectividade, que o tornaria perigoso para o clima de insuspeição que se pretende implantar.

O futebol é feito para adeptos, e é devido aos adeptos que subsiste. Isto para dizer que, desvirtuar o jogo, é fazer tudo o que possa servir para afastar a emoção, o ritmo ou o interesse dos adeptos.
Só depois vem a parte financeira.

Repito, para mim é completamente inconcebível parar um jogo para visionar uma imagem, ou continuá-lo e, pós visionamento, fazer 'rewind' até ao momento da infracção.

Sou obviamente a favor das novas tecnologias, mas se estas actuarem de forma instantânea.

E continuo a afirmar que não há estudos de tecnologias infalíveis que possam ser aplicadas actualmente.

Obviamente que as ideias devem ser debatidas, mas ninguém com responsabilidades veio ainda dizer como pretende aplicar as novas tecnologias no futebol.

abraço

PSousa disse...

Sim, sem duvida.

Por isso tem de haver debates para solucionar quando, como e de que maneira podem as tecnologias ser aplicáveis.

Abraço

José Lemos disse...

Mas o grande problema é esse. Esse é o debate que importa, mas a quem está a suportar este movimento esse debate não interessa.

Porque se tem a consciência que as NT não podem ser actualmente aplicadas no futebol de forma eficaz e credível.
E no dia em que possam, ainda muito caminho haverá a percorrer no sentido de persuadir os mais conservadores, aqueles que têm o poder de decisão.

Por isso referi que este debate, foi lançado, parece-me, num sentido de ganho de visibilidade.
E não censuro, até porque tem resultado...

PSousa disse...

Sem duvida!

Um abraço pela tua postura saudável e agradável de debate.

Abraço amigo