Quique Flores - do céu ao inferno?

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quarta-feira, 7 de janeiro de 2009


Quando um treinador chega a um clube como o Benfica, terá que estar preparado para a rapidez com que o estado de espírito à sua volta muda, por vezes de um dia para o outro. Especialmente quando facilmente conquista os adeptos e também, por que não dizê-lo, grande parte da crítica.

Na história recente do Benfica não será fácil encontrar alguém que tenha conquistado tudo e todos tão facilmente. Trapattoni foi campeão mas nunca conseguiu conquistar unanimidade suficiente para que se pudesse dizer que tenha sido amado. Koeman foi o treinador que nos últimos anos conseguiu levar mais longe o clube em provas europeias, mas em prejuízo do campeonato (prova que considerava secundária) e nunca foi muito apreciado nas hostes benfiquistas. Fernando Santos acredito que tenha sido o melhor treinador do Benfica desde Mourinho, foi aquele que conseguiu melhor rácio plantel/resultados/exibições, mas alguma falta de carisma fez com que tenha sido facilmente despedido, também com a aprovação da esmagadora maioria dos adeptos do clube. Da segunda passagem de Camacho quase nem vale a pena a falar, tal o deserto de ideias, a falta de motivação e de imaginação, o mau futebol e os maus resultados da equipa. Quique foi diferente. Até Domingo.

Encarado como um treinador promissor, com uma carreira promissora pela frente, Quique chegou a Lisboa como aposta pessoal de Rui Costa. A sua imagem bem trabalhada, o seu discurso fluente, a sua simpatia e abertura, a facilidade com que discutia futebol, o seu cavalheirismo (procurando não entrar em questões polémicas), conquistaram adeptos e rivais. Naturalmente que pediu tempo porque iria reconstruir uma equipa e esse mesmo tempo, tem que admitir-se, foi-lhe dado. Até Domingo.

Antes da partida com o Trofense, o Benfica tinha dados sinais preocupantes (principalmente na Luz com Galatasaray, Estrela da Amadora, Vitória de Setúbal, Nacional. Fora, em Atenas), misturados com bons sinais (especialmente com o Nápoles, o Sporting, o Vitória de Guimarães e o Marítimo). Uma equipa de altos e baixos. Uma equipa que, preocupantemente para os benfiquistas, Quique Flores ao fim de 6 meses de trabalho ainda não conseguiu estabilizar.
Já aqui disse, o espanhol indubitavelmente tem boas ideias. Rege-se por princípios tácticos interessantes, e adequa-se perfeitamente ao futebol moderno. Falta-lhe, parece-me, uma maior identificação com o nosso futebol. Para isso penso num adjunto português. Com conhecimentos. Que ninguém duvide que por exemplo Carlos Azenha foi parte importante do sucesso do Porto nos últimos dois anos. O Benfica tem que procurar isso em alguém. Nos seus quadros, o homem que actualmente mais próximo estará de o conseguir fazer com qualidade chama-se Diamantino Miranda, arredado do relvado desde a chegada de Quique. A "muleta" que Quique Flores mais tem utilizado para essa função, é o homem que chegou (justificadamente) rotulado como grande preparador físico: Pako Ayestarán. Também em virtude desse facto, importa questionar, o porquê da vinda de Frán Escribá.

Mais do que debilidades importantes na lateral esquerda da defesa, é na resolução do problema central do meio-campo, e no chamar para perto de si aqueles que melhor o podem ajudar, que penso residir a solução para Quique Flores dar a volta a esta situação. O jogo na Trofa é um marco importante da época. Pode ser o ponto de viragem e uma espécie de alerta para debilidades que poderiam manifestar-se em alturas mais decisivas da época, ou caso Quique não queira perceber os sinais, pode ser o início do seu fim.

Entretanto, é necessário esperar a evolução da equipa e do treinador, a partir deste grande sinal de alarme. A paciência e o futebol, são duas palavras que não casam muito bem nos países latinos, mas é na continuidade que se constrói a base do sucesso. O Benfica dos últimos anos (começando pelas altas patentes) esqueceu-se dessa premissa. Os rivais (principalmente o Porto), não. E também aí tem residido a diferença.

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