SLB 2011/2012 - o caminho

à(s) 18:24

sexta-feira, 13 de maio de 2011



Depois de um 2010/2011 muito bom, com extraordinários momentos de futebol, bancadas cheias, e jogadores valorizados, era expectável, na mente dos adeptos, que esta época fosse para o Benfica, um ano de consolidação.

As bases estavam lançadas, o fundamental era que existisse um sólido e competente processo de gestão. Assim não foi.


Se as vendas de Ramires e de Di Maria se afiguravam como inevitáveis, e traduziram-se em boas manobras financeiras e de valorização, fortes indicações foram dadas na pré-época, de que o plantel seria mal gerido. Desde logo a falta de alternativas credíveis a Fábio Coentrão, e principalmente a Maxi Pereira. No meio-campo, após a perda de Wesley para o Werder Bremen, é incompreensível a desistência pura e simples de tapar essa posição fundamental no sistema táctico de um Benfica que iria jogar a Liga dos Campeões (um jogador à imagem de Ramires, um médio fortíssimo em transição defensiva), tendo também em conta as informações que o departamento clínico do Benfica tinha, vindas da Selecção Nacional, acerca da muito precária condição física de Ruben Amorim. Ao mesmo tempo, no flanco esquerdo, foi sempre de difícil entendimento para os benfiquistas, o empréstimo de Urretavizcaya.

Assim, em Agosto, quando a época teve o seu início oficial, facilmente se percebia que o Benfica tinha um plantel qualitativamente bem abaixo daquilo que o seu título de campeão exigia e a sua política comunicacional, erradamente anunciava. Este é de facto um problema recorrente no clube, a gestão de expectativas dos seus adeptos e dos seus jogadores. Aquilo que esta direcção ainda não conseguiu perceber, é que não é necessária um grande impacto de comunicação no Benfica, especialmente quando a equipa ganha. A envolvência dos adeptos para com o clube, exponenciada ao máximo quando existem vitórias, é mais do que suficiente para o catapultar para níveis impressionantes. Querer dar passos maiores do que as pernas, quando o Benfica, sejamos claros, tem andado arredados de altos voos contínuos, praticamente nas últimas duas décadas, é além de desnecessário, contra-producente, como aliás se viu. Tem ainda um terceiro revés, o de proporcionar aos adversários directos, lanças importantes e bem utilizadas, no ataque ao clube.

O jogo da Supertaça frente ao rival Porto, representava um claro marco na época de ambas as equipas. De um lado o Benfica, campeão nacional, e a fazer uma boa pré-época, do outro lado um Porto vindo de uma época decepcionante, com um treinador olhado com desconfiança por parte dos adeptos, e chegado de uma pré-época insegura. Estes eram os dados favoráveis ao Benfica. Desfavoravelmente, o facto óbvio, de o plantel do Porto ser mais equilibrado, e importantíssimo, questões motivacionais. E foi este o ponto, que impeliu o Porto para uma vitória clara, e o Benfica para uma derrota perturbadora, o que aliás se percebeu, pela reacção, dentro do campo, dos seus jogadores. O cenário da final da Taça da Liga, foi em 3 meses, invertido. E, de forma inesperada, o FCP, partiu para o campeonato, com algum ascendente sobre o Benfica.

O início de campeonato, foi fatal para quebrar praticamente tudo o que a equipa tinha constituído na época passada. Dois jogos com arbitragens prejudiciais, um jogo (na Madeira) onde Roberto comprometeu a fundo, juntamente com a vitória do Porto na Supertaça, foram suficientes para acabar com algo do qual o Benfica de Jesus sempre pareceu depender: o estado emocional, a auto-estima.

Este início periclitante e atribulado, mais do que não fez do que exponenciar três pontos sobre os quais o Benfica e os seus responsáveis devem reflectir e aprender:

1 - A péssima constituição, principalmente em termos de 2as linhas, deste plantel

2 - A péssima manobra de gestão que representou a venda de David Luiz, a meio da época desportiva. Um clube como o Benfica terá sempre de recusar este tipo de negócios, que claramente comprometem o seu presente desportivo. Com a saída de David Luiz, o Benfica perdeu um jogador com uma enorme empatia perante a massa adepta. Perdeu um jogador que enchia de confiança a equipa, à qual muitas vezes dava o impulso motivacional necessário. Perdeu um titular e uma mais-valia indiscutível para a qual não encontrou substituto. E nem por isso alcançou um encaixe financeiro irrecusável (que a cada jogo de David Luiz no Chelsea se comprova como tendo sido ajustado).
3 -
A inexplicável precariedade física da equipa, quando cedo abdicou do campeonato português. Mais inexplicável se torna esta precariedade (que ninguém duvide, foi um dos principais focos de insucesso), quando se vê a exuberância e o fulgor do Porto de Villas Boas, que mesmo com o campeonato conquistado raramente deixou de apresentar a sua melhor equipa, ao mesmo tempo que manteve sempre elevados índices.

Aliás, é na diferença para o FCP que o Benfica tem de encontrar antídoto. É praticamente impossível encontrar época semelhante a esta, em termos de subjugação perante o rival. Desde a derrota na Supertaça, para os 5x0 sofridos no Dragão, passando pela conquista do campeonato pelo rival em pleno Estádio da Luz, até à inexplicável eliminação nas meias-finais da Taça de Portugal, também em Lisboa. Época onde também o Braga, elevado a novo rival, feriu o Benfica: com uma vitória caseira que atirou o Benfica para fora da luta pelo campeonato; com a eliminação do clube da Luz, nas meias-finais de uma competição europeia. São demasiadas feridas para um clube com esta grandeza.

São feridas que a direcção do Benfica e a sua gestão desportiva têm de saber sanar. Só um fortíssimo Benfica em 2011/2012 pode esquecer e minimizar época tão negra na história do clube. Época onde também o Braga, que se confirmou e se elevou a novo rival, feriu o Benfica: com uma vitória caseira que atirou o Benfica para fora da luta pelo campeonato; com a eliminação do clube da Luz, nas meias-finais de uma competição europeia.

Apesar de tudo, e é algo que importa referir por ser uma novidade no passado recente, naquela que talvez tenha sido uma das épocas mais negras de sempre, o Benfica uniu troféus e prestações meritórias em diversas provas: uma Taça da Liga, meias-finais da Taça de Portugal e da Liga Europa, qualificação para a Liga dos Campeões. Sem dúvida que uma evolução, e uma prova de uma mentalidade ganhadora, que paulatinamente tem regressado.

Há vários caminhos nos quais a gestão desportiva do Benfica tem que apostar, para repito, apagar esta época de má memória:
1 - Desde logo, utilizar uma política de comunicação mais condizente com a história do clube: mais focada no trabalho, mais apostado em reunir os seus adeptos, de forma positiva, à volta da equipa. Menos focada na guerrilha que hoje em dia paira no futebol português. O Benfica tem suporte para construir tendências, e não, ter que se adaptar àquelas que vigoram como forma de alcançar a vitória.

2 - Dar mais visibilidade a Rui Costa, para além daquela que tem tido ultimamente, no círculo central do campo, no final dos jogos. Rui Costa é um símbolo do Benfica, tem competências já provadas, e acima de tudo uma qualidade comunicacional elevada, além de uma grande empatia com os adeptos. É fundamental que surja mais vezes.
3 - Eliminar a música 'Cheira bem, cheira a Lisboa' do Estádio da Luz. Esse é um caminho muito perigoso para um clube que sempre foi um clube nacional, com extensão para todo o mundo, e não um clube regional. Além do mais, há uma grande fatia de adeptos presentes na Luz, que são provenientes de fora de Lisboa. O futebol, não é política, não é regionalismo, é paixão, é identificação.
4 - Encarar os adeptos como principal força de sustentação do clube, defendendo-os em qualquer circunstância.

5 - Saber identificar os parceiros que podem lutar pela credibilização do futebol português, identificando igualmente aqueles que não o fazem, ou apenas o façam pontualmente, por jogos de interesse.

6 - Perceber o fim de ciclo de alguns jogadores com qualidade, mas que notoriamente já esgotaram o seu contributo ao Benfica, essencialmente por questões motivacionais.

7 - Afastar atletas sem qualidade para representar o clube: Luís Filipe, Alan Kardec, Filipe Menezes, Weldon, Fernandez.

8 - Diminuir de forma drástica os jogadores pertencentes aos quadros do clube (Eder Luís, Yebda, Shaffer, Filipe Bastos, Balboa, Marcel, Patric, etc) , negociando-os pelos valores justos. Operação que permite um encaixe financeiro interessante, associado a diminuição da folha salarial.

9 - Compreender que Roderick Miranda pode ser um futuro estandarte do clube, mas necessita de rodar uma temporada, assumindo a titularidade num clube de primeira liga.
10 -
Valorizar a importância enorme que Nuno Gomes tem na estrutura de valores benfiquistas, e na passagem dos mesmos aos outros jogadores do plantel, propondo-lhe a renovação do contrato.
11 - Identificar a empatia existente entre Fábio Coentrão e os adeptos, entender que se trata de um jogador à Benfica, um jogador no qual os adeptos se revêm plenamente. Desde Rui Costa que não existe um caso tamanho de comunhão tão grande entre um jogador e a massa associativa, facto que é fundamental que se valorize, porque é importante que possa existir uma ligação afectiva grande entre a equipa e os adeptos, agora que a confiança foi perdida. Perceber de igual forma os sinais que vão sendo dados pelo jogador, e propor-lhe a extensão do contrato, com revisão salarial, garantindo a sua presença no plantel da próxima época.

12 - Há caminhos para diminuir o esforço financeiro que a permanência de Fábio Coentrão significa. É essencial que se dê uma prova de força, de independência de empresários, e que o Benfica faça aquilo que referi acima. Que se livre dos excedentários, e é nessa política de 'saneamento', que, mais do que as vendas de activos, pode estar o segredo para o equilíbrio financeiro. Sem esquecer as sempre importantes receitas de merchandising e que a própria Liga dos Campeões voltará a proporcionar.

13 - Reforçar o plantel de forma racional, sem demasiadas mexidas. Aos já contratados Matic e Bruno César, juntar reforços a custo zero (Wass, Nolito) a reforços bem identificados e naturalmente com investimento associado - desde logo a contratação de Toto Salvio, de um defesa central que possa assumir parceria com Luisão (permitindo a Jardel crescer) e de um ponta de lança letal que possa substituir Cardozo. Mais ainda, proporcionar o regresso de Urreta, Rodrigo, Nelson Oliveira, Miguel Vítor e David Simão.

Por fim, é fundamental que se possa dar um voto de confiança a Jorge Jesus. Apesar de ser impossível imputar-lhe algumas responsabilidades:

A) - Na formação do plantel,

B) - Na gestão do mesmo - dois exemplos: a constante preferência por Kardec em detrimento de Weldon e Nuno Gomes; a insistência inconsequente num Saviola que, fruto das alterações no modelo de jogo - que fazem com que se desgaste muito mais e com que se afaste das zonas onde pode ser mais decisivo, teve uma época péssima

C) - No processo físico da equipa (foco fundamental onde o treinador pode e deve melhorar - na época passada referiu ter abdicado parcialmente da UEFA por esta razão, nesta época percebe-se que juntamente com questões motivacionais associadas, esse foi um dos principais pontos de insucesso)

D) - Na inabilidade táctica que teve frente ao FCP na 2ª mão da meia-final da Taça de Portugal, e frente ao Braga na 2ª mão da meia-final da UEFA.
E) -
No discurso muitas vezes desadequado
F) - Na perda, em larga escala, no confronto directo com Villas Boas

G) - Assuma-se que teve pouca matéria prima à disposição, assuma-se que teve lesões importantes (Salvio e Amorim), assuma-se que a equipa tem ainda pouca confiança em Roberto, mas JJ nunca pareceu conseguir tornar o processo defensivo (ao contrário do ofensivo) suficientemente capaz, especialmente em transição. O número de jogadores que participa neste processo, no Benfica 2010/2011 foi quase sempre insuficiente e um dos principais focos de insegurança.

Estas responsabilidades podem e devem ser assumidas por um treinador que por direito próprio conquistou uma margem de manobra que lhe permite liderar a equipa na nova época, fruto da sua competência e daquilo que já mostrou ser capaz. É no entanto um período decisivo para o treinador do Benfica, que se requer de reflexão, aprendizagem e alteração de alguns comportamentos.

Vem aí também um período de aprendizagem para o Benfica, uma aprendizagem que se requer rápida e assertiva. A clareza e exuberância com que conquistou o campeonato anterior, faziam adivinhar um novo ciclo, que por erros próprios e grande mérito do adversário, não se verificou. O clube continua a ser de uma dimensão incomparável em termos de marca, em termos de paixão, em termos de adeptos. No entanto, essa pedestal onde o Benfica viveu e se acomodou durante as últimas décadas está cada vez mais em risco, e se a nível interno ainda existe alguma margem de títulos que confere conforto (sem que possa deixar de ser olhada com preocupação a esmagadora diferença dos últimos anos), a nível europeu, tem vindo a ser paulatinamente destronado pelo FCP, que neste momento conta já com um maior currículo.

É, tendo em conta este cenário, aliado à superioridade do rival na última época, com base nestes pressupostos que o Benfica tem de assentar a sua próxima época desportiva.

1 comentários:

Miguel Nunes disse...

O Coentrão só não sai do teu coração. Mais nada LOL